Se a fé necessita de ações concretas?

06/01/2024

Parece que a fé não precisa se manifestar por meio de condutas, hábitos ou comportamentos, pois todo ato é concreto e visível, ao passo que a fé é abstrata e invisível1, razão porque a fé não necessitaria se expressar por nossas ações.

Além disso está escrito que pela graça somos salvos, e a graça não nos vem por atos, senão somente pela fé.

No mais, está escrito que para nos salvarmos basta que por nossos lábios confessemos nossa fé em Jesus Cristo como único e suficiente salvador, independentemente do que dali em diante façamos.

MAS EM CONTRÁRIO:

"(…) VENHO EM BREVE PARA DAR A CADA UM CONFORME AS SUAS OBRAS." (Apocalipse 22, 12);

E ainda:

"(…) O FILHO DO HOMEM HÁ DE VIR NA GLÓRIA DE SEU PAI COM SEUS ANJOS, E ENTÃO RECOMPENSARÁ A CADA UM SEGUNDO SUAS OBRAS." (São Mateus 16, 27)

SOLUÇÃO:

A virtude da fé está na prática e não na ideia, pois quem não se dispõe a agir conforme aquilo em que acredita não tem fé, e justamente por isso é que hão de andarem sempre juntas a fé e as obras da fé4 que emergem dos atos pelos quais os fiéis manifestam, na prática, a sua adesão à vontade Divina, e por meio dessas práticas amam, obedecem e glorificam a Deus, como disse Cristo:

"POR QUE VOCÊS ME CHAMAM SENHOR, SENHOR, MAS NÃO FAZEM O QUE EU DIGO?" (São Lucas 6, 46).

Crer em Deus não cabe aos infiéis justamente por não possuírem a prática dos atos e das condutas próprias da fé.

Fiel é aquele que tem a fé como hábito.

O dom da fé não pode ser resumido numa mera noção intelectual do sacrifício de Cristo, pois isto até os inimigos da cruz testemunham.

Crer é assentir de maneira prática, efetiva, aderindo a tudo e em tudo que Deus deseja que por meio dele realizemos.

Ora, é o intelecto que move a vontade e os atos.

Todavia, se a fé contida no intelecto não for forte o suficiente para mover nossas ações, pensamentos, sentimentos e condutas, tal não passará de uma mera ideia inútil e vazia, pois a fé autêntica purifica os corações aos nos unir a Deus.

Nada vale sermos fiéis nas palavras se não temos a menor vontade de sermos fiéis nas atitudes, pois os atos exteriores revelam aquilo que está em nosso interior, e aquele que diz ter fé apenas no pensamento não a tem verdadeiramente, senão, apenas numa vaga ideia sem força suficiente para mover os atos da vida de acordo com aquilo que se diz acreditar.

Aquele que realmente crê possui também a predisposição para realização de atos condizentes com essa fé, no que então se responde as questões acima:

1 — Uma coisa pode ser invisível e abstrata, mas o seu resultado prático ser um efeito concreto.

Assim é o amor que embora seja abstrato e invisível em si mesmo, só poderá existir caso se manifeste por atos concretos e visíveis de caridade, perdão, renúncia, obediência, reverência, partilha ou por mesmo um abraço ou beijo sincero, dentre outras atitudes.

Por isso o Santo Apóstolo Paulo sempre vincula a utilidade e autenticidade da fé abstrata e invisível aos seus efeitos concretos e visíveis:

"CERTA É ESSA DOUTRINA E QUERO QUE ENSINES COM CONSTÂNCIA E FIRMEZA, PARA OS QUE ABRAÇAM A FÉ EM DEUS SE ESFORCEM POR SE APERFEIÇOAR NA PRÁTICA DO BEM. ISTO É BOM E ÚTIL AOS HOMENS." (Tito 3, 8);

"NÃO CESSO DE DAR GRAÇAS A DEUS E LEMBRAR DE TI EM MINHAS ORAÇÕES, AO RECEBER A NOTÍCIA DE SUA CARIDADE E DA FÉ QUE TENS NO SENHOR JESUS E EM TODOS OS SANTOS, PARA QUE ESTA TUA FÉ, QUE COMPARTILHA CONOSCO, SEJA ATUANTE E FAÇA CONHECER POR TODO BEM QUE SE REALIZA EM NÓS POR CAUSA DE CRISTO." (Filêmon, 1, 4-7);

"URGE TAMBÉM QUE OS NOSSOS APRENDAM A APLICAR-SE ÀS BOAS OBRAS PARA ATENDER A NECESSIDADE DOS MAIS POBRES. ASSIM NÃO FICARÃO INFRUTOSOS." (Tito 3. 14)

Da fé só se pode dizer existente e genuína se frutificar em atos exteriores concretos e visíveis.

2 — A salvação que nos chega pela fé veio antes por UM ATO de amor extremo no qual o próprio Deus ofertou seu Filho em sacrifício para que nenhum de nós perecesse.

Logo, a fé que nos vem pela graça é fruto de um ATO DA CARIDADE DIVINA, pois sem o ato exterior do sacrifício do Cristo, nada valeria nossa fé.

Mas se é o fruto dá testemunho da existência da árvore, conclui-se que a fé não pode existir sem o ato que lhe testemunhe.

Além disso, o Santo Apóstolo jamais escreveu que somos salvos SOMENTE pela graça ou SOMENTE pela fé, mas que (…) PELA GRAÇA SOMOS SALVOS."5

Essa graça que conduz a perfeição e a utilidade da fé só se manifesta por meio dos atos emanados da caridade, pois:

"A CARIDADE NÃO PRATICA O MAL CONTRA O PRÓXIMO. PORTANTO, A CARIDADE É O PLENO CUMPRIMENTO DA LEI." (Romanos 13, 10)

REALMENTE, O SERVIÇO DESSA OBRA DE CARIDADE NÃO SÓ PROVÊ AS NECESSIDADES DOS IRMÃOS, MAS É TAMBÉM UMA ABUNDANTE FONTE DE AÇÕES DE GRAÇAS A DEUS." (II Coríntios 9, 12)

A obra perfeita da fé é a caridade, pois sem caridade não adianta orar, rezar, dar esmola, partilhar os bens, dar comida, roupa remédio, pois o bem que isso proporciona sem caridade é temporário.

Quando realizamos algo com caridade, os efeitos benéficos desses atos se perpetuam no céu e na terra.

Fé útil e operante é que realiza o movimento da conversão, e nos retira da condição de infiel e nos coloca na de fiel.

Ora, todo movimento de mudança só se realiza por atos concretos, sejam públicos ou privados.

Não há mudanças apenas na ideia, se os atos, hábitos e os pensamentos permanecem os mesmos. Se a fé é o início da caminhada com Cristo, o ato de fé é o produto, a finalidade da graça Divina em nossas vidas, cujo resultado útil é a santificação, porque "(…) CRISTO SE ENTREGOU POR NÓS A FIM DE NOS RESGATAR DE TODA INIQUIDADE, NOS PURIFICAR E NOS CONSTITUIR SEU POVO DE PREDILEÇÃO, ZELOSO NA PRÁTICA DO BEM." (Tito 2. 14)

A fé é o dom Divino que atinge o ser humano em sua plenitude, em sua alma, vontade, intelecto e atos.

Só assim se pode dizer que a fé é completa e perfeita, quando retira o ato humano da infidelidade e o conduz a fidelidade, tirando o indivíduo do estado de oposição contra Deus e o recoloca em estado de adesão à vontade Divina que o predispõe ao amor, e todo amor é prático, pois só existe de fato, e só se realiza no ato de amar.

De nada vale rezar para que Deus não deixa um semelhante passar fome, sede e frio, se temos comida e não partilhamos; se temos água e não lhes saciamos a sede; e se temos agasalho e os deixamos perecer de frio ao relento enquanto nos mantemos aquecidos.

Por isso, não pode haver divisão entre fé e ação porque é pela ação ordenada que manifestamos nossa fé em Deus.

3 — O que existe em nosso interior há de se expressar externamente, "(…) POIS A BOCA SÓ DIZ DO QUE ESTÁ CHEIO O CORAÇÃO." (São Mateus 12, 34)

Mas se a boca proclama o que não existe em nosso interior e o que não estamos dispostos a realizar é porque somos mentirosos diante de Deus, incorrendo em condenação ainda mais severa: "É A TUA BOCA QUE TE CONDENA, E NÃO EU; SÃO TEUS LÁBIOS QUE DÃO TESTEMUNHO CONTRA TI MESMO." (Jó 15, 6); "PORQUE EM SEUS LÁBIOS NÃO HÁ SINCERIDADE, SEUS CORAÇÕES SÓ URDEM PROJETOS ARDILOSOS. A GARGANTA DELES É COMO UM SEPULCRO ESCANCARADO E COM A LÍNGUA DISTRIBUEM LISONJAS." (Salmos 5, 10) "[…] MINHA LÍNGUA NÃO PROFERIRÁ MENTIRAS." (Jó 27, 4); "[…] QUE O SENHOR EXTIRPE OS LÁBIOS HIPÓCRITAS E A LÍNGUA INSOLENTE." (Salmos 11, 4)

Assim, aquele que não confessar a sua fé por suas ações, negou a fé que proclama com os lábios:

"(…) AQUELE QUE NÃO CUIDA DOS SEUS, E PRINCIPALMENTE OS DA PRÓPRIA CASA, NEGOU A FÉ, E É PIOR DO QUE UM INCRÉDULO." (1 Timóteo 5,8).

Quem crê, mas não age conforme sua fé, crê em vão:

"Lembro a vocês, irmãos, do evangelho que anunciei e que vocês receberam, no qual vocês permanecem firmes, e pelo qual vocês serão salvos, se guardarem como lhes anunciei; de outra forma, TERÃO ACREDITADO EM VÃO." (1 Coríntios 15,1-2) (Fonte: Igreja Militante)