O Mistério do Santo Nome de Jesus

04/01/2024

"Terminados os oito dias para a sua circuncisão, deram-lhe o nome de Jesus, o mesmo nome que lhe foi dado pelo anjo antes de ser concebido no ventre" (Lucas 2:21).

Por Roberto De Mattei 

A circuncisão era um rito judaico no qual um pouco de sangue tinha que ser derramado. É importante notar que, embora a Virgem e São José conhecessem a natureza divina do Filho, eles queriam observar a lei de Israel, da mesma forma que haviam cumprido a lei romana, passando por muitas dificuldades para ir a Belém por ocasião do censo. Eles sabiam que Jesus era o Messias, e que, sendo o Filho de Deus e o próprio Deus, Ele tinha vindo para renovar as leis do mundo, superiores a toda lei e toda autoridade. Mas eles também sabiam que Deus deve ser respeitado nas leis e nas autoridades que o representam, mesmo quando essas autoridades estão destinadas a trair sua missão, como fizeram os judeus e romanos quando condenaram Jesus à morte.

A circuncisão era um rito de purificação, e Jesus, o Deus-Homem, não tinha necessidade de purificar-se de nada. No entanto, em sua suprema humildade, ele queria velar sua divindade dos homens, e é por isso que ele nasceu em uma manjedoura. Jesus derramou seu sangue pela primeira vez ao realizar o rito da circuncisão, prenunciando assim o sangue que derramaria abundantemente no Calvário.

E foi no dia de sua circuncisão que o Menino Divino recebeu o nome de Jesus, "que lhe foi dado pelo anjo antes de ser concebido". Este nome não lhe foi dado por seus santos pais, mas pelo próprio Deus. Somente Deus, o Pai, realmente sabia o propósito pelo qual o Filho havia se encarnado, e é por isso que Ele queria que Ele fosse chamado de Jesus, o que significa Salvador, porque Ele veio ao mundo para nos salvar e essa era a Sua missão. O nome de Jesus deriva do aramaico Yeshua, e significa salvação.

"Não há salvação em mais ninguém, pois debaixo do céu não há outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos", lemos nos Atos dos Apóstolos (Atos 4:12).

Por isso, no momento da Anunciação, o Arcanjo Gabriel disse a Maria: "Não tenhais medo, Maria, porque achaste graça perto de Deus. Eis que conceberás em teu ventre, e darás à luz um filho, e o nomearás Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará sobre a casa de Jacó para sempre, e seu reinado não terá fim" (Lucas 1:30-33).

A partir de então, Nossa Senhora meditava dia e noite sobre estas palavras. Compreendeu pela primeira vez o significado do mistério da Encarnação.

O nome de Jesus foi posteriormente revelado a São José, com estas palavras do anjo: "José, filho de Davi, não tenhais medo de receber Maria, vossa mulher, pois a sua concepção é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1, 21-25).

Desde seus primeiros dias, o nome de Jesus sempre foi honrado e reverenciado na Igreja. No século XIV, o culto litúrgico começou a ser prestado. Um grande pregador e propagador desse culto foi São Bernardino de Sena (1380-1444), da Ordem dos Frades Menores, que idealizou e propagou o costume de representar o Santo Nome de Jesus abreviado em suas três primeiras letras, JHS, que são as de Jesus em grego, ΙΗΣΟΥΣ (Iesus) emoldurado por um sol de doze raios em um campo azul.

O trigrama de San Bernardino foi muito bem sucedido, e passou a se espalhar por toda a Europa. Em 1530, o Papa Clemente VII autorizou a ordem franciscana a recitar o ofício do Santíssimo Nome de Jesus. Mais tarde, a Companhia de Jesus tomou como emblema as três letras do Nome, segundo o desenho de São Bernardo, e dedicou os maiores e mais belos templos que construiu em todo o mundo ao Nome de Jesus, a começar pela Igreja do Gesù, em Roma, a maior e mais bela de todas. A celebração da Festa do Nome foi estendida a toda a Igreja pelo Papa Inocêncio XIII em 1721. No início do século 20, a celebração foi fixada em 1º de janeiro e, em 1962, foi alterada para 2 de janeiro, mas depois do Concílio desapareceu do calendário. João Paulo II reinstituiu para 3 de janeiro a comemoração facultativa do Nome de Jesus no calendário litúrgico romano.

Tão grande e misterioso é o nome de Jesus que, segundo São Paulo, ninguém é capaz de entendê-lo a não ser graças ao Espírito Santo. "Nemo potest dicere, Dominus Jesus, nisi in Spiritu Sancto" (1 Coríntios 12:3). Além disso, o padre La Puente diz que este nome é um compêndio de todas as perfeições próprias de Jesus como Deus que ele é, bem como de todas as graças e virtudes presentes nele como homem (Meditazioni, Giacinto Marietti, Torino 1835, vol. II, p. 180). São Bernardino explicou que, enquanto a Cruz evoca a Paixão de Cristo, o seu Nome recorda todos os aspectos da sua vida: a pobreza da manjedoura, a modesta oficina do carpinteiro, a penitência no deserto, os milagres da caridade divina, o sofrimento no Calvário e o triunfo da Ressurreição e da Ascensão; A totalidade de Jesus resumiu-se em uma palavra.

Basta pronunciar o Nome de Jesus para dizer tudo, sem necessidade de acrescentar mais nada, porque ao Nome de Jesus todos os habitantes do Céu, da Terra, do Purgatório e até do Inferno, dobram os joelhos: "In nomine Jesu omne genuflectatur, Coelestium, Terrestrium et Infernorum" (Fp 2:10). (Fonte: Adelante La Fe)