Um conclave como nenhum outro: a Igreja enfrenta um momento decisivo

05/05/2025

Os bombeiros do Vaticano instalaram na sexta-feira a chaminé no telhado da Capela Sistina

o canal tradicional através do qual o mundo saberá, com fumaça preta ou branca, se a Igreja já tem um novo papa. Assim começa a contagem regressiva para um conclave que será, de acordo com o The New York Times, "como nenhum outro".

Com um número recorde de cardeais eleitores vindos de mais países do que nunca, na próxima quarta-feira eles se reunirão na Capela Sistina para eleger o sucessor de Francisco, em um momento de profundas divisões internas. A Igreja está, como aponta o jornal americano, "em um momento particularmente perigoso", com tensões entre facções progressistas, que exigem mais inclusão e mudanças, e setores conservadores, que exigem um retorno sob o slogan da unidade.

O cardeal Anders Arborelius, da Suécia, descreveu a atmosfera anterior como caótica: "Os cardeais não se conhecem muito bem", disse ele, acrescentando que se sentiu "perdido o tempo todo" nos briefings. Alguns cardeais até usam crachás, diante do número de novos rostos, muitos de países que nunca tiveram um cardeal antes.

O conclave terá 133 cardeais com menos de 80 anos, de cerca de 70 países, em comparação com os 115 eleitores de 48 países que elegeram Francisco em 2013. Pelo menos 89 votos são necessários para eleger um papa.

Favoritos e tensões

Entre os nomes que mais soam estão o cardeal Pietro Parolin, da Itália; o cardeal Luis Antonio Tagle, das Filipinas; e o cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém. Parolin, o atual secretário de Estado do Vaticano, é visto como alguém capaz de construir pontes entre moderados e liberais, embora os conservadores o rejeitem. Tagle representa o impulso em direção a um papa do mundo em desenvolvimento, mas seu perfil progressista gera resistência. Pizzaballa, embora italiano, é conhecido por sua sensibilidade pastoral.

"O resultado pode ser mais fragmentado do que o normal", explica Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Sant'Egidio, que descreve uma dinâmica de assembleia que favorece os "mais conhecidos" e permite mais "pressão moral dos idosos".

Alguns já estão falando sobre a "necessidade" de reeleger um papa italiano. "Há quanto tempo você está sem um papa?", perguntou o cardeal Juan José Omella, de Barcelona, com um sorriso. A resposta: 47 anos.

A fratura geográfica e doutrinária

Nem todos estão satisfeitos com a crescente diversidade geográfica do Colégio Cardinalício. O cardeal Gerhard Ludwig Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, contou ironicamente como um novo cardeal de uma pequena ilha do Pacífico chegou a uma reunião dizendo: "Primeiro, eu não falo inglês; segundo, não sei nada sobre teologia; e terceiro, não sei por que me fizeram cardeal. Agora ele é um eleitor do Papa".

Francisco expandiu muito o número de cardeais, excedendo o limite usual de 120 eleitores, deixando de lado as sedes tradicionalmente influentes no Ocidente. Nem todos os novos cardeais, no entanto, compartilham de sua visão. "A oposição pode ser encontrada em todos os países onde ele criou cardeais", disse o cardeal Michael Czerny, que é próximo a Francisco.

África, Ásia e parcerias imprevisíveis

Enquanto os progressistas olham para a Ásia, alguns conservadores estão procurando apoio na África, onde a igreja está crescendo rapidamente, mas mantém posições mais tradicionais. O cardeal Fridolin Ambongo Besungu, do Congo, está entre os favoritos de Francisco, embora se oponha às bênçãos dos casais gays. Outros nomes, como o cardeal Robert Sarah, da Guiné, provocam medo real entre os setores liberais.

"Há quem promova um papa africano como um cavalo de Tróia", advertiu o cardeal Czerny, que descreveu essa estratégia como "muito, muito, muito estúpida".

Neste ambiente incerto e fragmentado, ninguém sabe realmente quem aparecerá na varanda de San Pedro quando a fumaça branca for vista. As alianças são frágeis, as estratégias opacas e as expectativas díspares. O futuro do papado e, em grande medida, de toda a Igreja, depende de um voto que combine oração, política e mistério.

(Com base em um relatório de Jason Horowitz e Emma Bubola, The New York Times, 4 de maio de 2025)(Fonte: INFOVATICANA)