Um santo que explica com
muita clareza como é nossa alma, como somos corrompidos e fracos e traça um
caminho para através de Nossa Senhora, chegarmos ao Senhor.
Os escritos de São Luís Maria Grignion de Montfort
tem sido
inspiração para muitos outros santos através dos séculos. Sua obra Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem é um dos clássicos mais belos do catolicismo. Tem
ajudado milhares de pessoas a uma mudança radical de vida e verdadeira
conversão até mesmo para quem acha que já sabe tudo e para religiosos. É um
divisor de águas. Quem lê esse livro com atenção, recebe um discernimento tão
grande das verdades das coisas de Deus que torna-se praticamente impossível não
mudar de vida.
Eis um trecho onde o santo descreve com
detalhes as misérias de nossa alma:
"Nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e
corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós. Quando se despeja água limpa e
clara em uma vasilha suja, que cheira mal, ou quando se põe vinho em uma pipa
cujo interior está azedado por outro vinho que aí antes se depositara, a água
límpida e o vinho bom adquirem facilmente o mau cheiro e o azedume dos
recipientes. Do mesmo modo, quando Deus põe no vaso de nossa alma, corrompido
pelo pecado original e pelo pecado atual, suas graças e orvalhos celestiais ou
o vinho delicioso de seu amor, estes dons divinos ficam ordinariamente
estragados ou manchados pelo mau germe e mau fundo que o pecado deixou em nós;
nossas ações, até as mais sublimes virtudes, disto se ressentem.
É, portanto, de grande importância, para adquirir a
perfeição, que só se consegue pela união com Jesus Cristo, despojar-nos de tudo
que de mau existe em nós. Do contrário, Nosso Senhor, que é infinitamente puro
e odeia infinitamente a menor mancha na alma, nos repelirá e de modo algum se
unirá a nós.
Para despojar-nos de nós mesmos, é preciso conhecer
primeiramente e bem, pela luz do Espírito Santo, nosso fundo de maldade, nossa
incapacidade para todo bem, nossa fraqueza em todas as coisas, nossa
inconstância em todo tempo, nossa indignidade de toda graça e nossa iniquidade
em todo lugar.
O pecado de nossos primeiros pais nos estragou
completamente, nos azedou, inchou e corrompeu, como o fermento azeda, incha e
corrompe a massa em que é posto. Os pecados atuais que cometemos, sejam mortais
ou veniais, perdoados que estejam, aumentam em nós a concupiscência, a
fraqueza, a inconstância e a corrupção, deixando maus traços em nossa alma.
Nosso corpo é tão corrompido, que o Espírito Santo (Rom
6, 6; Sl 50, 7) o chama corpo do pecado, concebido no pecado, nutrido no
pecado, e só apto para o pecado, corpo sujeito a mil e mil males, que se
corrompe sempre mais cada dia, e que só engendra a doença, os vermes, a
corrupção. Nossa alma, unida ao corpo, tornou-se tão carnal, que é chamada
carne: "Toda a carne tinha corrompido o seu caminho" (Gn 6, 12). Toda a nossa
herança é orgulho e cegueira no espírito, endurecimento no coração, fraqueza e
inconstância na alma, concupiscência, paixões revoltadas e doenças no corpo.
Somos, naturalmente, mais orgulhosos que os pavões,
mais apegados à terra que os sapos, mais feios que os bodes, mais invejosos que
as serpentes, mais glutões que os porcos, mais coléricos que os tigres e mais
preguiçosos que as tartarugas; mais fracos que os caniços, e mais inconstantes
do que um cata vento. Tudo que temos em nosso íntimo é nada e pecado, e só
merecemos a ira de Deus e o inferno eterno. Depois disto, por que admirar-se de
ter Nosso Senhor dito que quem quisesse segui-lo devia renunciar a si mesmo e
odiar a própria alma; que aquele que amasse sua alma a perderia e quem a
odiasse se salvaria? (Jo 12, 25).
A Sabedoria infinita, que não dá ordens sem motivo, só
ordena que nos odiemos porque somos grandemente dignos de ódio: só Deus é digno
de amor, enquanto nada há mais digno de ódio do que nós.