Sinodalidade de fachada
Sinodalidade pomposamente promovida provou ser nada mais do que um rótulo bonito para justificar decisões já tomadas.

Diziam que éramos chamados a uma nova era eclesial marcada pela "escuta", pelo "caminhar juntos", por aquela figura retórica de inspiração conciliar que é o Sínodo da Sinodalidade. Mas, com o tempo, essa sinodalidade pomposamente promovida provou ser nada mais do que um rótulo bonito para justificar decisões já tomadas. E quando se ouve o que não se quer ouvir, parece que a sinodalidade se torna algo semelhante a uma consulta com zumbido ideológico.
Por Miguel Escrivá
O exemplo mais flagrante é oferecido pelo jornalista Rich Raho, um defensor frequente nas redes sociais de tudo que cheire a "progressismo sinodal". Em um tuíte publicado ontem — que já foi amplamente divulgado — Raho afirma o seguinte:
O Papa pode consultar, mas, no final, é ele quem decide. [...] O Papa Francisco estava absolutamente correto ao emitir Traditionis Custodes."
Ou seja: consultar, sim, mas apenas para cumprir as formalidades. A decisão, naturalmente, já foi tomada. Ouvir o Povo de Deus, é claro. Mas se o Povo disser algo que não se encaixa na narrativa, é arquivado e passado para outra coisa. E para que isso, todos os sínodos, todos os questionários, todo o "processo de escuta"?
A contradição não poderia ser mais flagrante. Enquanto alguns porta-vozes sinodais continuam a fazer malabarismos para defender o indefensável, já foi documentado que dezenas de dioceses em todo o mundo responderam positivamente à aplicação do Summorum Pontificum. Não se tratava de grupos marginais ou rebeldes nostálgicos: eram os bispos que refletiam os sentimentos dos fiéis, sacerdotes e comunidades inteiras que encontravam na liturgia tradicional uma fonte de fecundidade espiritual. O que Roma fez então? Ouviu? Não. Disse exatamente o oposto. E assim nasceu Traditionis Custodes, um documento de amputação litúrgica que hoje conhecemos. impôs-se mentindo.
Um relatório oficial do Vaticano, inédito, mina os fundamentos da Traditionis Custodes. Este documento da Congregação para a Doutrina da Fé revela que a maioria dos bispos estava satisfeita com o Summorum Pontificum e que sua supressão foi imposta apesar dos claros avisos sobre suas consequências. Suas conclusões destacam que a liturgia tradicional não era divisiva, que atraía particularmente os jovens e que sua eliminação poderia causar "mais mal do que bem". A avaliação interna revela que a suposta necessidade de restringir a Missa tradicional não se baseava em dados reais, mas em preconceitos ideológicos e ignorância.
E agora, como reação defensiva, somos convidados a admirar a firmeza de Francisco em tomar decisões "mesmo quando consultava", apresentando-a como um ato de liderança autoritária. O que estávamos ignorando. A realidade é que os documentos publicados (e não refutados) provam que a Traditionis Custodes nada mais é do que uma forma de abordagem clerical ao absolutismo disfarçada de sinodalidade. A mesma atitude que aqueles que agora o aplaudem criticaram ferozmente. décadas.
Porque, não nos enganemos: o franciscanismo foi um projeto em permanente contradição. Proclamava abertura, mas proibia. Falava de inclusão, mas segregava. Alegava ouvir, mas tapava os ouvidos quando a mensagem não era conveniente. Clamava por misericórdia, mas rejeitava friamente aqueles que amavam a tradição. Pregava a unidade, mas executava a divisão. E tudo isso envolto nos dogmas do progressismo eclesial dos anos setenta, fossilizados em seus slogans, que confundem atualidade com relevância e renovação com ruptura.
Enquanto isso, alguns jornalistas ligados a esse ecossistema ideológico insistem em blindar o legado de Francisco com comentários que mais parecem neocatecismos de obediência automática do que jornalismo. O curioso é que, em nome da sinodalidade, aqueles mesmos que deveriam ter voz estavam sendo deixados sem voz: os fiéis. (Fonte: INFOVATICANA)