Ser católico é ser "perdedor"?

11/11/2025

Se Cristo nos convida a segui-lo e sofrer com Ele e por Ele, é porque vale muito a pena. 

Caros leitores, em maio passado foram duas notícias, quase simultâneas, que me chamaram poderosamente a atenção. Um deles referia-se a um farmacêutico alemão que, por razões de consciência, perdeu sua licença de farmacêutico profissional; o que achei muito duro e bastante heroico por parte deste homem. A outra notícia estava relacionada ao a denúncia do Governo da Espanha contra o bravo bispo D. Juan Antonio Reig Pla, por ocasião de algumas palavras que o Seu Ilustre proferiu em homilia e que o nosso Governo anticristão não gostou nem um pouco. Esta não é a primeira denúncia que o Mons. Reig Pla recebeu contra ele e, graças a Deus, todos os impetrados contra ele foram arquivados pela Justiça.

Por Lina Veracruz (INFOCATOLICA)

Estes são dois exemplos recentes de casos de perseguição aos católicos por suas crenças religiosas e morais, entre tantos outros, ainda mais graves, que também estão ocorrendo em diferentes países. Naturalmente, a História da Igreja está repleta de muitas mais, há muitos Santos que perderam tudo, até mesmo suas vidas (e, em muitas ocasiões, sofrendo formas horríveis de morte) por amor a Jesus Cristo e em coerência com sua fé cristã. E, em outras ocasiões, a vida não se perde, mas graves prejuízos podem ser sofridos nesta vida. Então pode-se perguntar: Isso deve ser sempre assim؟? Ser católico, ao que parece, é estar sempre em vantagem?

Bem, sim e não. Dependendo de como você olha para ele. Não quero ser ambíguo, não se preocupe. Ocorre que essa questão pode ser considerada pela lógica do mundo ou por uma perspectiva sobrenatural. Assim, pela lógica do mundo, não se pode duvidar que a própria vida de Jesus Cristo, aparentemente, tenha terminado em fracasso absoluto. Sendo inocente, sofreu uma morte muito dura: Traído, injuriado, açoitado, coroado de espinhos e crucificado entre dois ladrões, sob falsas acusações de blasfêmia contra Deus e rebelião contra Roma. E muitos de seus seguidores, ao longo da História da Igreja, perderam, por amor a Ele, muitas coisas: Vida, saúde, país, propriedade, posição, honras, etc. Então, ao que parece, ser católico pode significar ser um verdadeiro perdedor", sim. Nosso Senhor Jesus Cristo nos falou a respeito, em relação aos seus seguintes, com palavras bem claras:

"Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, carregue sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida, a perderá; e quem perder sua vida por mim, a salvará" (Mt 16, 24-25)

Igualmente, em outras passagens do Evangelho, o Senhor anunciou que seus seguidores sofreriam perseguições e São Paulo assinalou que Cristo é Crucificado "escândalo para os judeus e loucura para os gentios" (1 Cor 1, 23). Então, certamente, a Palavra de Deus deixa bem claro o que se pode esperar, se alguém decidir seguir seriamente a Jesus Cristo. Porém, o curioso do caso é que, ao mesmo tempo, Jesus nos disse que seu jugo é suave e seu fardo é leve (Mt 11:30) e nos convidou a não ter medo. Como tudo isso pode ser verdade ao mesmo tempo? Como pode o jugo de Cristo ser suave, se, ao mesmo tempo, segui-lo significa estar disposto a carregar a cruz e, em muitas ocasiões, sofrer duras perseguições? Como não sentir medo dessa perspectiva?

Essas questões nos levam diretamente a considerar todo esse assunto de um ponto de vista sobrenatural. Se Cristo nos convida a segui-lo e sofrer com Ele e por Ele, é porque vale muito a pena. Ele mesmo ensina seus discípulos a terem uma mentalidade de "inverter", investindo na eternidade:

"Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e onde os ladrões furam e roubam. Tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem os corroem e onde os ladrões não perfuram nem roubam" (Mt 6, 19-21).

Igualmente, o Senhor nos ensinou que o Reino de Deus é como um tesouro que se encontra escondido num campo, de modo que se vende tudo o que tem e compra esse campo, a fim de adquirir o referido tesouro (Mt 13, 44). Esclarecendo, além disso, que o Reino de Deus está dentro de nós (Lc 17, 21). Este tesouro consiste, portanto, na santidade, na vida de união com Deus e de amor a Ele, na presença do Espírito Santo e na Graça de Deus na alma. Vale a pena ter tudo isso? Claro...! Porque Deus é Quem Ele é, Amor infinito, e porque a vida eterna com Deus e a ressurreição no dia final espera aqueles que têm tudo isto (Jo 6, 40). Neste momento, nesta vida vencida, não percebemos muito do que tudo isso significará. Porém, o próprio São Paulo, referindo-se ao Céu, nos diz que ninguém pode sequer imaginar o que Deus preparou para aqueles que o amam (1 Coríntios 2:9). Desta forma, ao não admira que o Senhor tenha nos ensinado que a salvação da alma é de longe a coisa mais importante para nós. Tanto que Ele mesmo quis sofrer uma morte horrível a fim de nos ter com Ele no Céu. Da mesma forma, o amor de Deus em nossas almas é o que pode tornar suave o jugo de Cristo por nós e nos impedir de sermos levados pelo medo, mesmo em meio às dificuldades.

Como se não bastasse todo o exposto, acontece também que já nesta vida, viver o catolicismo (entendam-me: digo vivê-lo com seriedade) tem suas vantagens, também da própria lógica deste mundo. Deus nos revelou seus Dez Mandamentos por amor a nós. Ele não o fez, é claro, para amargar a nossa existência, mas muito pelo contrário; porque os Dez Mandamentos da Lei de Deus nos ensinam a amar verdadeiramente a Deus, ao próximo e a nós mesmos e nos protegem de sofrermos muitos males, já nesta vida. Se as pessoas se esforçassem para viver cumprindo os Dez Mandamentos, o nível de pecado no mundo seria muito menor. Haveria muito menos discórdia e, portanto, muito maior paz entre indivíduos, famílias, colegas de trabalho, sociedades, nações e, portanto, muito menos sofrimento. Quanto dano é causado por não viver como Deus quer e quanta dor e vazio seriam evitados se Nosso Senhor fosse ouvido...! Além disso, vamos ser claros: Ter a benção de Deus não é o mesmo que não ter. Isso vale para indivíduos, famílias e nações inteiras. A Sagrada Escritura está cheia de exemplos desta última. Desta forma, viver como Deus deseja pode valer muito a pena, já nesta vida e não só por questões espirituais.

Todas essas considerações, portanto, devem nos encher de esperança e alegria. Os católicos têm muitas razões para isso, apesar de todas as dificuldades e embora não vivamos tais sentimentos com a mesma intensidade em todos os momentos; Bem o católico, realmente, não é nenhum "perdedor", mas o maior vencedor que pode haver. Tal vitória pertence a Deus, uma vez que é Ele quem opera em nós o querer e o fazer o bem (Filipenses 2:13) e chega à sua consumação no Céu. Tenho bem claro que os mais espertos, aqueles que sempre souberam melhor o que era melhor para eles, são os Santos. E não é em vão que a Igreja que está no Céu se chama Igreja Triunfante.

Não se deve entender, no entanto, que com essas considerações estou subestimando a dor e o sofrimento que podem ser experimentados nessa vida. Dor é dor, sofrimento é sofrimento e lidar com eles às vezes pode ser muito complicado, pode custar muito, muito mesmo. Porém, o próprio Senhor já nos precedeu naquele caminho de dor e não devemos esquecer que a esperança é uma das três virtudes teologais. É muito bom e ajuda muito a ter esperança em Deus e na sua vitória final, em meio ao sofrimento. Afinal, nesta vida somos "a propósito", como dizem, e nosso objetivo final é chegar ao Céu. Devemos procurar ter essa consideração com frequência, muito presente e muito clara.

Tomemos, pois, a nossa fé católica na mais alta consideração, estimemo-la pelo que realmente vale e esforcemo-nos, com a ajuda da Graça, por seguir sempre o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como ensinou Santa Teresa de Jesus, fiquemos com os olhos bem fixos em Jesus. Amemos muito a Deus e ao próximo e não tenhamos medo de carregar a nossa cruz, pois o amor vivido em meio à dor é, logicamente, aquele que tem o maior mérito e é o tom da glória, antes de tudo, por Deus e também por nós mesmos, embora muitas vezes não possamos percebê-lo ou senti-lo dessa forma. Viver esta vida presente agradando a Deus e servindo ao próximo por amor a Deus e ao próximo é a maneira mais elevada de viver e, de longe, a única que vale a pena ser vivida. E se, por ocasiões, nos visitarem a perseguição e a dor, ofereçamos-as a Deus de todo o coração, implorando seu auxílio, sua proteção e, sobretudo, para sermos muito fiéis a ele em tal situação. Desta forma, podemos ajudar muitas pessoas a serem salvas e a Graça de Deus e a santidade em nossa alma aumentarão.

Concluindo, vale muito a pena ser um "perdedor" neste mundo por amor a Jesus Cristo, se tal situação nos chega; assim como Ele mesmo aceitou para nós uma vida cheia de humilhação e duro sacrifício. Tal é o caminho para sermos verdadeiramente vencedores junto a Deus diante do mal e da morte, como demonstra Nosso Senhor Jesus Cristo através de Sua gloriosa Ressurreição. Que o Senhor, por intercessão da Santíssima Virgem, nos ajude a sermos muito fiéis a Ele até o fim, para que também nós ressuscitemos para a vida eterna com Ele. Que assim seja. (Fonte: INFOCATOLICA