SÃO FRANCISCO DE PAULA — Profeta, taumaturgo e fundador

05/04/2024

Sua extraordinária vida comprova que a heroicidade na prática da virtude pode chegar a suprir a ciência humana. Isso explica o aparente paradoxo de sua biografia, mostrando como a alta sabedoria de um taumaturgo analfabeto o tornou conselheiro de Papas e Reis. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 2 de abril.

Por Plinio Maria Solimeo

Dificilmente um santo se forma em lar pouco cristão, pois o exemplo dos pais costuma desempenhar importante papel na formação dos filhos. Vemo-lo claramente na vida de São Francisco de Paula, cujos genitores eram modestos agricultores na pequena cidade de Paula, na Calábria. Tiago, o pai, tirava do campo o sustento da família e santificava-se na oração, no jejum, penitência e nas boas obras. Sua esposa, Viena, emulava com ele em piedade, secundando-o em suas boas disposições.

Mas não tinham filhos. E, para obtê-los, pediam ao Céu, sobretudo ao seráfico São Francisco, de quem eram devotos. Prometeram dar seu nome ao primeiro filho que tivessem. O Poverello de Assis deixou-se comover, e nasceu o rebento tão desejado.

A alegria, entretanto, foi de pouca duração, pois o Francisco recém-nascido teve uma infecção nos olhos que lhe ameaçava a visão. Tiago e Viena recorreram de novo ao Seráfico Santo: seria possível que ele tivesse atendido seus rogos pela metade?

Prometeram agora, caso o menino se curasse e tão logo a idade o permitisse, vestirem-no com o hábito franciscano, deixando-o durante um ano num convento da Ordem. A criança se refez perfeitamente e cresceu em graça e santidade, seguindo desde cedo o exemplo paterno de oração e penitência até atingir os 12 anos.

Apareceu-lhe então um frade franciscano, lembrando que chegara a hora de seus pais cumprirem a promessa. Estes logo aquiesceram e levaram o menino, com seu pequeno hábito, para o convento franciscano de São Marcos, no qual todo o rigor da regra era observado.

Francisco, embora não fosse obrigado, começou a observar a regra com tanta exatidão, que se tornou modelo até para os frades mais experimentados nas práticas religiosas.

Alguns milagres marcaram a vida do frade-menino no convento. Certo dia o sacristão mandou-o precipitadamente buscar brasas para o turíbulo, mas sem indicar-lhe como. Ele, com toda simplicidade, trouxe-as em seu hábito, sem que este se queimasse. De outra feita, encarregado da cozinha, colocou os alimentos na panela e sob ela o carvão, esquecendo-se contudo de acendê-lo. Foi depois para a igreja rezar e entrou em êxtase, esquecendo-se da hora. Quando alguém, que passara pela cozinha e vira o fogo apagado, chamou-o perguntando se a refeição estava pronta, Francisco, sem titubear, respondeu que sim. E chegando à cozinha, encontrou o fogo aceso e os alimentos devidamente cozidos.

Os frades de São Marcos queriam conservar aquele adolescente que dava tantas provas de santidade. Mas ele se sentia chamado para outra coisa. Findo o ano, dirigiu-se com os pais a Roma, Assis, Loreto e Monte Cassino. Neste último lugar, sabendo que São Bento ali se estabelecera aos 14 anos para entregar-se todo a Deus, quis fazer o mesmo. Pediu então aos pais que o deixassem viver como eremita na chácara que habitavam. Os pais não só consentiram, mas passaram a levar-lhe diariamente os alimentos.

Francisco queria mais solidão. Por isso, um dia desapareceu e subiu uma montanha rochosa, onde encontrou uma pequena gruta que transformou, durante seis anos, em sua morada. Vivendo exclusivamente para Deus, na contemplação e na penitência, alimentava-se de raízes e ervas silvestres. Segundo a tradição de sua Ordem, recebeu ali o hábito monástico das mãos de um Anjo.

Primeiros discípulos, fundações, milagres

Surgindo jovens discípulos, esse eremita de 19 anos obteve do bispo local licença para construir um mosteiro no alto de um monte próximo à cidade de Paula. Essa foi a origem da Ordem dos Mínimos, fundada pelo santo em 1435. A construção desse mosteiro, como a de outros posteriores, constituiu um contínuo milagre. Dela participavam os habitantes da cidade, ricos e pobres, nobres e plebeus. E foram testemunhas de inúmeros milagres. Enormes pedras saíam do lugar à sua simples voz, pesadas árvores e pedras tornavam-se leves para serem removidas ou transportadas, alimentos que mal davam para um trabalhador alimentavam muitos… Com isso, mesmo pessoas doentes iam participar das construções e se viam curadas.

"Não há espécie de doenças que ele não tenha curado, de sentidos e membros do corpo humano sobre os quais não tenha exercido a graça e o poder que Deus lhe havia dado. Ele restituiu a vista a cegos, a audição a surdos, a palavra aos mudos, o uso dos pés e mãos a estropiados, a vida a agonizantes e mortos; e, o que é mais considerável, a razão a insensatos e frenéticos.

"Não houve jamais mal, por maior e mais incurável que parecesse, que pudesse resistir à sua voz ou ao seu toque. Acorria-se a ele de todas as partes, não só um a um, mas em grandes grupos e às centenas, como se ele fosse o Anjo Rafael e um médico descido do Céu; e, segundo o testemunho daqueles que o acompanhavam ordinariamente, ninguém jamais retornou descontente, mas cada um bendizia a Deus de ter recebido o cumprimento do que desejava".1

Dentre os muitos mortos que ele ressuscitou, destaca-se seu sobrinho Nicolas. Este desejava ardentemente fazer-se monge na Ordem que seu tio acabava de fundar. Contudo, por apego humano, sua mãe a isso se opôs tenazmente. Aconteceu então de o rapaz adoecer e morrer. Tendo seu corpo sido levado à igreja do convento, Francisco passou a noite em lágrimas e orações, obtendo assim a sua ressurreição.

Na manhã seguinte, quando sua irmã foi assistir ao sepultamento do filho, Francisco lhe perguntou se ainda se opunha a que ele se fizesse religioso. "Ah! — disse ela em lágrimas — se eu não me tivesse oposto, talvez ele ainda vivesse". — "Quer dizer que você está arrependida?" — insistiu o Santo. — "Ah, sim!". Francisco trouxe-lhe então o filho são e salvo, que a mãe abraçou em prantos, concedendo a licença que antes recusara.

Outro caso famoso foi o da ressurreição de um homem que havia sido enforcado três dias antes pela justiça. Restituiu-lhe não só a vida do corpo, como também a da alma.

Mas o fato mais extraordinário foi ele ter ressuscitado duas vezes uma mesma pessoa. Um certo Tomás de Yvre, habitante de Paterne, trabalhando na construção do convento dessa cidade, foi esmagado por uma árvore. Levado ao santo, este restituiu-lhe a vida. Tempos depois, tendo ele caído do alto do campanário, espatifando-se em baixo, o Santo restituiu-lhe novamente a vida.

Nenhuma de suas predições deixou de se cumprir

Foi durante esse tempo que o Arcanjo São Miguel, seu protetor e de sua nascente Ordem, apareceu a Francisco de Paula, trazendo-lhe uma espécie de ostensório no qual aparecia o sol num fundo azul e a palavra Caridade, que o Arcanjo lhe recomendou tomar como emblema de sua Ordem.

O Santo dormia precariamente sobre algumas pranchas, passando as noites em prece. Observava uma quaresma perpétua, às vezes comendo a cada oito dias. Chegou passar toda uma quaresma sem alimento, à imitação de Nosso Senhor. Seu hábito era de um tecido grosseiro, vestido diuturnamente, e apesar disso exalava um agradável odor. Seu rosto, sempre tranquilo e ameno, não parecia ressentir-se das austeridades e dos efeitos da idade, pois era cheio, sereno e rosado.

O coroamento de todas as suas virtudes consistia numa admirável simplicidade. Ele era bom, franco, cândido, serviçal, sempre disposto a fazer o bem a qualquer um. Foi esse espírito que comunicou a seus filhos espirituais.

Dotado do dom da profecia, um de seus biógrafos escreveu que dele se pode dizer, como do Profeta Samuel, que nenhuma de suas predições deixou de se cumprir. Assim, profetizou que os turcos invadiriam a Itália, como já havia predito que tomariam Constantinopla.

Os demônios não podiam resistir-lhe, e foram inúmeros os casos de possessos que ele livrou do jugo diabólico.

Embora analfabeto, pregava com tanta sabedoria que pasmava aqueles que o ouviam. E como tinha em grau heroico a virtude da sabedoria e as virtudes cardeais (prudência, justiça, temperança e fortaleza), brilhavam elas em seu modo de ser e agir, como também em suas palavras. Por isso, sem o menor constrangimento, podia conversar e dar conselhos a Papas, reis e grandes deste mundo.

Grandes prodígios operados na França

A fama de suas virtudes chegara à França, onde Luís XI fora atacado por doença mortal. Inúmeros pecados pesavam-lhe na consciência, mas ele tinha fé. Por isso, pediu ao Santo que o fosse curar. Mas Francisco de Paula partiu para aquele país somente com ordem formal do Papa. Isso seria providencial para a expansão de sua Ordem não só na França, mas também em outros países da Europa, como Alemanha e Espanha.

Assim que esteve com o rei, São Francisco de Paula discerniu que a vontade de Deus não era a de curá-lo, mas de levá-lo desta vida. E o disse claramente ao soberano, preparando-o para a morte. O monarca confiou-lhe seus filhos, principalmente o delfim, então com 14 anos.

Francisco foi o confessor da Princesa Joana, que depois de ser repudiada por seu marido, o futuro Luís XII, fez-se religiosa e mereceu a honra dos altares.

Foi por conselho de Francisco de Paula que o Rei Carlos VIII se casou com Ana de Bretanha, herdeira única daquele ducado, que veio assim unir-se ao Reino da França.

Entre outros grandes carismas, o Santo era dotado por Deus de uma graça especial para obter o favor da maternidade para mulheres estéreis. Muitos milagres desse gênero, alguns em casas reais ou principescas, foram relatados no processo de canonização do santo em Tours.

Suas devoções particulares consistiam em cultuar o mistério da Santíssima Trindade, da Anunciação da Virgem, da Paixão de Nosso Senhor, bem como os santíssimos nomes de Jesus e Maria.

A "segunda morte" de São Francisco de Paula

O santo faleceu na Sexta-feira Santa de 1507, aos 91 anos de idade. Seu corpo permaneceu incorrupto até 1562. Nesse ano, durante as Guerras de Religião, os protestantes calvinistas — como o santo havia predito — invadiram o convento de Plessis, onde estava enterrado, tiraram seu corpo do sepulcro e, sem se comoverem de vê-lo em tão bom estado, queimaram-no com a madeira de um grande crucifixo da igreja.

Assim, foi o santo praticamente martirizado depois de sua morte. Entretanto, apesar do ódio dos inimigos da fé, sua glória permanece para sempre. (Fonte: Agência Boa Imprensa)

O livro do Cardeal Víctor Manuel Fernández, Paixão Mística, Sensualidade e Espiritualidade, provavelmente teria sido colocado no Índice pela Congregação que hoje preside e sua leitura teria sido proibida aos católicos