Quatro grandes problemas da Igreja que poucos falam
			            Nos últimos anos, grande parte do discurso eclesial tem se concentrado em questões mundanas, como mudanças climáticas, políticas migratórias ou diálogo inter-religioso.

São questões relevantes, mas que muitas vezes deslocam o centro de gravidade da vida da Igreja. Enquanto se organizam sínodos, conferências e documentos sobre questões superficiais a partir de Roma, dificilmente se fala daquilo que é a raiz de tudo o mais: a fé, a graça, o pecado, a liturgia e a salvação das almas.
Por Miguel Escrivá
Há problemas silenciosos, profundamente espirituais, que ultimamente não aparecem nos planos pastorais nem nas equipes supostamente ativas do sínodo, mas que minam o próprio coração da Igreja. Classificá-los em quatro é uma redução insuficiente, simplista e imprecisa, mas acho que num contexto confuso concretizar ideias pode ser útil.
1. Comunhão sacrílega generalizada
Em milhares de paróquias repete-se uma cena quase idêntica: longas filas para comungar, e confessionários vazios. A ideia de que é necessário estar na graça de Deus foi diluída até desaparecer. A comunhão é tirada por hábito, sem exame de consciência, como se bastasse o gesto exterior. Muitos sacerdotes deixaram de falar em pecado mortal ou juízo, e o resultado é uma comunhão rotineira, às vezes sacrílega.
O remédio é simples e concreto: que nas homilias se recorde a necessidade da confissão sacramental antes da comunhão se se está em pecado mortal; que se explique o que é pecado mortal; que haja confessores visíveis antes e depois das Missas. Não é preciso endurecer, mas ensinar com clareza e caridade. Os fiéis foram infantilizados, mas a realidade é que as pessoas estão preparadas para ouvir uma proposta de vida exigente. Por medo de soar duro ou gerar rejeição, muitos sacerdotes dificilmente pregam sobre o pecado. Essa é a maneira de salvar almas?
2 . A falta de fé dos bispos e padres
O segundo problema não é visto de fora, mas seus efeitos são devastadores. Muitos padres e bispos não acreditam no Deus que está encarnado. Eles cumprem, administram, organizam, vivem uma espécie de simulação, mas perderam a certeza interior do sobrenatural. Por isso, celebram sem profunda convicção, pregam sem ardor, governam como se a Igreja fosse apenas mais uma instituição entre tantas. O clericalismo não consiste mais apenas no abuso de poder, mas no esvaziamento espiritual do ministério.
A solução é devolver ao clero suas raízes espirituais. Talvez seja bom um plano radical que permita que os sacerdotes se retirem para o deserto um mês por ano. Um plano exigente para monitorar sua vida espiritual. Seminários com mais filtros, discernimento real das vocações, mais silêncio e oração... Um padre que ora pouco acaba acreditando pouco. E quando os pastores perdem a fé, o rebanho se dispersa.
3 . Movimentos sectários
Muitos movimentos que cresceram no pós-conselho acabaram se tornando círculos fechados e com dinâmicas sectárias. Todos compartilham de uma visão salvadora: a Igreja teria cometido grandes erros de Constantino até sua chegada e seu carisma é melhor do que a tradição e a doutrina secular de 1700 anos. O grupo se torna o fim; o fundador, uma figura intocável; a obediência, uma forma de controle. Por meio de conversas fraternas ou escrutínio, o conhecimento do pecado e da fraqueza do membro torna-se não apenas seu elemento perverso de coesão, mas também uma deformação pseudo-sacramental sacrílega e abusiva.
A Igreja não pode olhar para o outro lado. É necessária uma vigilância real: revisões diocesanas, limitação de mandatos, transparência econômica e doutrinária, acompanhamento externo das práticas espirituais.
4 . A banalização da liturgia
Talvez um mal diretamente interligado com todos os outros seja a perda do sentido sagrado na liturgia. Em demasiados lugares, a Missa tem-se transformado num espetáculo improvisado. Muda-se a oração, canta-se qualquer coisa, dramatiza-se o altar, reduz-se o tabernáculo e o Santíssimo a um elemento decorativo. O que é vendido como tentativa de proximidade resulta em perda total de mistério e produtos emotivistas descartáveis.
A liturgia não precisa de criatividade ou emotividade, mas de fidelidade e beleza. É a linguagem da fé: se está deformado, o que cremos também está deformado. A verdadeira reforma não é voltar ao passado, mas ancorar-se ao atemporal. Lembre-se que o próprio Deus está na Missa. Onde se respeita a liturgia, floresce a fé; onde se banaliza, se apaga. (Fonte: INFOVATICANA)






