Por que devemos voltar ao patriarcado

11/12/2023

Após o assassinato da jovem Giulia Cecchetin em 11 de novembro, a Itália descobriu que está ameaçada pelo patriarcado. Uma reportagem do jornal La Reppublica no dia 24 trazia uma eloquente manchete: Feminicídios: vamos acabar com a hecatombe. A tese, que é a mesma propagada pela mídia, redes sociais e todo tipo de influenciadores, é que há uma onda de feminicídios e a culpa é atribuída à cultura do patriarcado, que continua predominando. O patriarcado deve, portanto, ser combatido para combater a violência contra as mulheres.

Por Roberto De Mattei

O patriarcado era um sistema social que prescrevia a autoridade masculina e a divisão de papéis dentro da família. Com exceção dos tempos em que vivemos, a autoridade paterna sempre foi considerada um elemento imutável da ordem social, indispensável para todos os povos e todos os tempos. Durante séculos, o pai desempenhou na família a mesma missão que o soberano na sociedade política (a própria palavra pátria deriva de pai), e que o Papa, o Santo Padre, cumpre na Igreja. Há apenas cinquenta anos, esse era o modelo da família italiana: o pai tinha o dever de orientar a família e ser seu sustento econômico, enquanto a mãe se encarregava da educação dos filhos, que eram numerosos. A família nuclear incluía também os avós, portadores de uma tradição que foi passada de geração em geração.

Esse sistema de organização social foi destruído pela revolução de 1968 e tudo o que ela trouxe consigo: leis que permitiam o aborto e o divórcio e, na Itália, em primeiro lugar, a lei de direito de família de 22 de abril de 1975, que decapitou a autoridade paterna, aboliu a preeminência legal do pai e contribuiu para o desaparecimento da autoridade e da identidade nas famílias italianas.

Lembremos que entre os ideólogos de 1968 havia teóricos da antipsiquiatria, como David Cooper, autor de um livro que foi reeditado inúmeras vezes, com o significativo título de A Morte da Família. Tal era a convicção que começava a se espalhar no final da década de 1960: a iminente e inevitável extinção da instituição da família. No referido ensaio, David Cooper propôs a abolição do papel do pai, substituindo-o pelo dos irmãos. Isso aspirava a uma sociedade paradoxal de irmãos sem pai, até mesmo irmãos como assassinos de seu pai: como aconteceu em 1793 com o assassinato do rei da França e como Nietzsche propôs ao profetizar o assassinato de Deus Pai.

O processo de democratização da Igreja, da sociedade e da família é um só. A destruição da família teria um impacto particular na libertação das mulheres. O feminismo procurou eliminar a distinção entre o papel de homens e mulheres, destruindo assim a vocação natural à maternidade e à feminilidade. A reivindicação do direito ao aborto e à contracepção tem sido proposta como o direito da mulher de decidir sobre seu próprio corpo e sua própria sexualidade, libertando-se assim da autoridade do homem e do peso da maternidade. A masculinização das mulheres andou de mãos dadas com a devirilização dos homens, amplamente promovida pela moda, publicidade e música. A implementação da ideologia de gênero é um objetivo, mas as palavras de ordem contra a cultura do patriarcado têm origem em manifestações feministas como a que ocorreu em Roma em 6 de dezembro de 1975, na qual participaram cerca de vinte mil mulheres que entoaram palavras de ordem como "Chega de mulheres, mães e filhas! Vamos nos livrar da família!"

E, com certeza, a família foi destruída. A autoridade paterna foi dissolvida, as respectivas missões de cada sexo e de cada componente da família foram eliminadas; Pais, mães e filhos estão passando por uma crise de identidade. A família patriarcal não existe mais na Itália, exceto por alguns redutos felizes. E nesses poucos redutos, que devemos chamar de naturais e não patriarcais, a mulher respeita o marido e os filhos respeitam os pais, e a mulher não é morta, mas amada e respeitada. O assassinato de Giulia Cecchetin não é resultado da cultura patriarcal, mas dos anos sessenta, relativista e feminista, que atualmente permeia a sociedade e na qual todos são culpados e vítimas.

No entanto, a crise da família acarreta muito mais do que o fim da família patriarcal. A Itália caminha para se tornar uma sociedade de solteiros, na qual não restam mais famílias. De acordo com o último relatório do CENSIS sobre a situação socioeconómica do país, até 2040 apenas um casal de 4 pessoas (ou seja, 25,8% do total) terá filhos, e as famílias unipessoais representarão 37%. 34% dos italianos também serão idosos e moram sozinhos. Isso se deve ao fato de que hoje não é apenas a família que está em crise, mas a própria existência de casais e casamentos. Não só cada vez menos pessoas se casam e menos filhos são trazidos ao mundo, mas ainda menos pessoas estão vivendo juntas, porque toda responsabilidade por um cônjuge ou coabitante é tão evitada que as pessoas têm medo de viver juntas por muito tempo.

O que chamam de feminicídio não é resultado da velha cultura patriarcal, mas da nova cultura antipatriarcal, que confunde ideias, enfraquece sentimentos e desestabiliza o psiquismo, que, privado do suporte natural que a família lhe dava desde o nascimento com a segurança proporcionada pelo pai e pela mãe. O homem está sozinho com seus pesadelos, medos e ansiedades à beira do abismo: o abismo do vazio em que mergulha quem abdica do que é, quem abandona a natureza própria, imutável e permanente do homem, da mulher, do pai, da mãe ou dos filhos. E enquanto todos falam em feminicídio, ninguém fala de uma modalidade penal muito mais difundida: os infanticídios que são cometidos todos os dias na Itália, na Europa e no resto do mundo por pais e mães que exercem a máxima violência contra seus próprios filhos inocentes antes mesmo de verem a luz do dia.

Uma sociedade que mata seus filhos está condenada à morte, e o fedor da morte é cada vez mais sentido em todas as suas formas, não apenas a do feminicídio. A vida, a restauração da sociedade, só será possível retornando ao modelo natural e divino da família. Se quisermos acabar com a loucura que está destruindo a sociedade, teremos que voltar, com a ajuda de Deus, ao modelo de família patriarcal que se baseia na autoridade do pai, o chefe da família, e na santidade da mãe, que é o coração. Os dois se uniram no dever de procriar e educar as crianças para torná-las cidadãs do Céu. A outra opção é o inferno, que já está se instalando no mundo. (Fonte: Adelante La Fe)