São Boaventura (1217-1274) foi geral da Ordem Franciscana por 17 anos e Cardeal (obrigado por obediência), que frequentemente meditava sobre o Céu:
O rito que sustenta os fracos
Durante décadas, o progressismo eclesial acusou aqueles que preferem a liturgia tradicional de agirem por ego e orgulho.

Diz-se que aqueles que precisam de gestos de reverência no culto o fazem por desejo de se destacar, de julgar os outros ou de se apegar ao passado. Do outro lado, estão os progressistas modernos, apresentados como verdadeiras testemunhas do Evangelho: acolhedores, simples, tolerantes.
Por Miguel Escrivá
No entanto, a maioria dos fiéis que buscam a tradição não o faz por uma atitude de superioridade, mas porque precisam dela. Não porque se considerem melhores, mas precisamente porque se reconhecem fracos. Não porque queiram impor uma estética, mas porque descobriram que o rito os sustenta. O gesto solene, a linguagem sagrada, a estrutura estável não são caprichos: são auxílios concretos para viver a fé. Apoios que sustentaram gerações inteiras ao longo dos séculos, mesmo nos tempos mais sombrios.
Hoje vivemos em um mundo acelerado, disperso e barulhento. Muitos de nós não encontramos sustento no tom infantil ou excessivamente horizontal da maioria das celebrações. Não precisamos de menos forma, mas de mais substância. Silêncio, beleza, mistério. Não para nos sentirmos diferentes ou menosprezar alguém, mas para evitar nos perdermos. Para podermos continuar acreditando.
É preocupante que, em nome da inclusão, as próprias pessoas que mais precisam do rito sejam excluídas. Que sejam ridicularizadas, corrigidas publicamente, acusadas de rigidez ou narcisismo espiritual. A verdadeira caridade não impõe uma única maneira de viver a fé. Não zomba da reverência. A verdadeira caridade ouve e compreende aqueles que duvidam e precisam de um apoio mais firme, aqueles que encontram na tradição uma maneira concreta e estável de permanecer fiéis.
Defender a liturgia tradicional não significa desprezar outras formas válidas de culto. Mas significa reconhecer que existem muitas almas que não conseguem viver do improviso ou do puramente emocional. Elas precisam de estrutura, continuidade, clareza. Não porque sejam melhores. Talvez, pelo contrário, porque sejam mais vulneráveis.
Porque há corações que se abrem infinitamente, mesmo numa missa simples e mal celebrada. Como aquelas avós que vão à paróquia todos os dias com uma fé tão forte que faz tremer o inferno; ou aquelas mães que oferecem silenciosamente, domingo após domingo, o sofrimento dos seus entes queridos, mesmo que a estética da igreja seja pobre ou a liturgia deficiente. E há outras — como eu — mais frágeis, mais desajeitadas na oração, mais necessitadas de ajuda. Precisamos do rito, da forma, da reverência, dos gestos, dos símbolos, não por vaidade, mas porque sem eles dificilmente conseguimos abrir o coração.
A liturgia não é uma bandeira para nos distinguirmos nem uma trincheira para nos entrincheirarmos. É um apoio concreto para nos impedir de cair. É por isso que a tradição não é procurada para ostentação, mas para apoio. Porque os fiéis, ao apegarem-se ao rito, não procuram destacar-se, mas resistir. (Fonte: INFOVATICANA)