O Papa Guardião da Fé e a Crise da Sinodalidade
A questão da sinodalidade é algo totalmente contrário ao verdadeiro depósito da fé. Devemos seguir o que Jesus deixou, sem emendas sujeitas ao tempo

Em 22 de janeiro de 1899, o papa Leão XIII publicou a carta apostólica Testem Benevolentiae Nostrae, dirigida ao cardeal James Gibbons, de Baltimore. O documento foi uma resposta às tendências do chamado "americanismo", movimento que pretendia adaptar a doutrina e a prática da Igreja Católica às ideias modernas, relativizando princípios perenes em nome da adaptação cultural.
Leão XIII foi categórico ao ensinar que a doutrina da Igreja não pode ser alterada de acordo com os ventos do mundo. O Santo Padre recorda que o papa, como sucessor de Pedro, não é dono da fé, mas guardião do depósito revelado, transmitido por Cristo e confiado à Igreja.
Ele escreve claramente:
"É da fé que a doutrina revelada, como nos foi confiada, não pode de modo algum ser diminuída nem sofrer mudanças. O que uma vez foi estabelecido pela Igreja deve permanecer perpetuamente, porque 'o Espírito Santo que habita nela ensinará toda a verdade' (Jo 16,13)."
E acrescenta sobre a missão do papado:
"O ofício do Pontífice Romano é o de guardar religiosamente o depósito da fé e de transmiti-lo fielmente; jamais o de permiti-lo ser adulterado ou diminuído."
Nas palavras do magistério de Leão XIII, vemos reafirmada a essência do ministério petrino: o papa não é legislador arbitrário que molda a fé segundo opiniões humanas, mas sim servo da verdade revelada. Essa concepção está em perfeita consonância com a tradição católica e com o ensino dos Padres e Doutores da Igreja.
Contudo, ao olharmos para a realidade atual, percebe-se um contraste preocupante. Sob o pontificado de Leão XIV, o chamado Sínodo da Sinodalidade abriu espaço para que opiniões, sugestões e até mesmo propostas contrárias à Tradição e ao Magistério perene da Igreja sejam consideradas como possíveis evoluções da fé.
Essa postura coloca em risco o princípio estabelecido por Leão XIII: se o papa passa a agir como um árbitro da fé, e não como seu guardião, cria-se a impressão de que o depósito revelado é mutável e sujeito a circunstâncias culturais e pressões sociais. Ao permitir que documentos sinodais deixem "em aberto" questões de fé e moral que já foram definidas pela Igreja, corre-se o risco de confundir os fiéis e relativizar o ensinamento imutável de Cristo.
O contraste, portanto, é evidente:
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Leão XIII reafirma que a Igreja não pode se adaptar ao mundo à custa da verdade, pois a missão do papa é custodiar a fé.
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Leão XIV, ao deixar em suspenso ou em discussão pontos já resolvidos pelo Magistério, transmite a impressão de que a fé pode ser moldada por assembleias e consensos humanos.
Leão XIII adverte de modo quase profético:
"A Igreja de Cristo, sendo divina em sua constituição, não pode de forma alguma se conformar às vicissitudes da sociedade humana; é antes necessário que a sociedade se molde à Igreja, que é mestra infalível da verdade."
A advertência de Leão XIII continua válida e atual: sempre que se tenta acomodar a fé à mentalidade moderna, esvazia-se sua força sobrenatural e se coloca em risco a salvação das almas. Cabe aos católicos fiéis recordar que a Igreja vive da verdade recebida de Cristo, e não de consensos passageiros.
(Redação: Vida e Fé Católica)