O cardeal Müller segue esclarecendo: "Quando alguém está em estado de pecado mortal, o papa não pode lhe dar permissão para receber a comunhão"

29/04/2025

"O papa tem que ser fiel ao magistério da Igreja, ele não pode fazer o que quiser" 

Em entrevista ao jornal espanhol ABC, o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, fez declarações que não passaram despercebidas no contexto do próximo conclave que elegerá o sucessor do Papa Francisco.

Em suas palavras, Müller sublinha os limites do poder pontifício e adverte contra certos desvios doutrinários que, segundo ele, ameaçam alterar a própria essência do catolicismo.

"O papa tem que ser fiel ao magistério da Igreja, ele não pode fazer o que quiser", disse o cardeal alemão com força, insistindo que a autoridade do Pontífice não é absoluta nem pode contradizer a Palavra de Deus.

Durante a entrevista, publicada pela ABC, Müller evitou descrever os diferentes pontificados como pêndulo, como sugerem alguns observadores. Preferiu falar, ao contrário, de continuidade na missão, embora reconhecesse as diferentes personalidades dos últimos papas: João Paulo II, marcado pela luta pela liberdade diante do totalitarismo; Bento XVI, "o grande teólogo e pedagogo"; e Francisco, com foco pastoral nos pobres e na paz mundial.

Fiducia supplicans: o ponto mais controverso

Uma das questões que mais tem gerado tensão é a declaração de Fiducia suplicans, que abre a possibilidade de bênçãos a casais homossexuais ou em situação irregular. Müller não esconde sua preocupação e ressalta que esta proposta carece de um "claro fundamento teológico", a ponto de provocar a rejeição total de algumas conferências episcopais, como a da África.

"O casamento entre um homem e uma mulher está no centro e na base da existência humana", disse ele, alertando que a ideologia LGBT nega os pilares da antropologia cristã. No entanto, ele fez uma distinção importante: o acompanhamento pastoral é necessário, mas não pode contradizer a doutrina revelada.

O cardeal também abordou uma das confusões mais comuns em torno do papel do Espírito Santo. Ele alertou contra a visão mágica ou mecânica que alguns têm sobre sua ajuda na eleição do papa ou em suas decisões. "Não é um oráculo. A assistência do Espírito Santo não isenta o papa de respeitar os limites impostos a ele pela Palavra de Deus", disse ele, citando documentos como a constituição do Concílio Vaticano II Dei Verbum.

"O papa não pode dizer que os leigos podem celebrar a missa ou permitir a comunhão em estado de pecado mortal. Nem a Igreja pode governar sem o episcopado, que é de direito divino", acrescentou.

O Sínodo e o Parlamentarismo

Outro ponto crítico foi sua avaliação do Sínodo sobre a Sinodalidade. Para Müller, a participação de leigos e consagrados é legítima em outras formas de diálogo eclesial, mas não em um sínodo de bispos propriamente dito. "Somente aqueles que têm ordenação episcopal podem votar em um sínodo. Ninguém pode mudar isso. Transformar o sínodo em um parlamento seria destruir sua natureza", advertiu.

Em sua opinião, aqueles que apelam ao Espírito Santo para justificar essas reformas, sem argumentos teológicos sólidos, "o consideram responsável por sua própria tolice".

O perfil do novo papa

Olhando para o futuro, Müller expressou sua esperança de que o próximo papa seja aconselhado por bons teólogos e pelo colégio dos cardeais. Embora não seja necessário que ele seja um acadêmico, ele deve estar disposto a enfrentar com clareza os grandes desafios de hoje, como o niilismo, o transumanismo ou a migração. "A Igreja deve oferecer esperança diante dessas ameaças, mas sem perder sua essência", disse ele.

O cardeal também lamentou a polarização dentro da Igreja e a manipulação da mídia que reduz o debate teológico a categorias políticas. "A Igreja não é um partido. Cristo é a cabeça, não um comitê ideológico", disse ele.

Müller concluiu reafirmando que falar claramente não é uma forma de confronto com o papa, mas um dever de fidelidade à missão que recebeu como cardeal e teólogo. Em suas próprias palavras: "Não podemos ficar em silêncio quando a verdade do Evangelho é distorcida". (Fonte: INFOVATICANA)

Doutora da Igreja, Padroeira da Itália, lutou pela Cristandade e promoveu Cruzada contra os infiéis.