O Adorável Sagrado Coração de Jesus

22/06/2022

O culto ao Sagrado Coração é a quintessência do cristianismo, o compêndio e sumário de toda a Religião", escreveu de modo lapidar o Bispo de Poitiers, Louis-Édouard François Désiré Pie (1815-1880), mais conhecido como Cardeal Pie, por quem São Pio X nutria grande admiração.

Por Paulo Roberto Campos

Entre as numerosas recomendações de papas e santos mostrando a importância primordial dessa devoção, podemos citar, a título de exemplo, as palavras do Bem-aventurado Pio IX (1846-1878) ao fundador dos Missionários do Coração de Jesus, Padre Jules Chevalier: "A Igreja e a sociedade não têm outra esperança senão no Sagrado Coração de Jesus; é Ele que curará todos os nossos males. Pregai e difundi por todas as partes a devoção ao Sagrado Coração, ela será a salvação para o mundo".

Amor divino respondido com a ingratidão humana

O mês de junho é consagrado ao Sagrado Coração de Jesus, cuja festa solene se celebra na sexta-feira seguinte à Oitava de Corpus Christi - portanto, neste ano, no dia 24. A Santa Igreja a estabeleceu como uma extensão da comemoração de Corpus Christi (16 de junho).

Metaforicamente, o substantivo "coração" é empregado para simbolizar valores de ordem moral - a pureza, por exemplo: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!" (Mt 5, 8). Mas simboliza sobretudo o extremo amor d'Aquele que disse: "Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque Eu sou manso e humilde de coração" (Mt 11, 29). É o amor de Jesus Cristo por seus filhos, duros de coração, mas aos quais Ele se ofereceu como vítima para os redimir e salvar eternamente.

Esse sublime aspecto nos é apresentado pela iconografia com a imagem de Nosso Senhor apontando seu Coração, em recordação ao que Ele disse a Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690) [vide quadro no final deste artigo] no dia 16 de junho de 1675 no Convento da Visitação de Santa Maria, em Paray-le-Monial [foto ao lado], quando lamentou:

"Eis aqui o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até se esgotar e se consumir, para lhes testemunhar seu amor; e, por reconhecimento, não recebe da maior parte deles senão ingratidões, por suas irreverências, sacrilégios e pelas indiferenças e desprezos que têm por Mim no Sacramento do amor. Mas o que Me é ainda mais penoso é que corações que Me são consagrados agem assim."

"A Grande Promessa" do Sagrado Coração de Jesus

Justamente para desagravar as ofensas contra seu Divino Coração, Nosso Senhor orientou essa mesma santa - cuja vida foi inteiramente voltada para o culto do Sagrado Coração e, sempre aconselhada por São Cláudio la Colombière, tudo fez para expandir essa sacratíssima devoção - a incentivar em todos os católicos o piedoso hábito da comunhão reparadora das primeiras sextas-feiras de cada mês. Ele prometeu que concederia a graça da salvação eterna a todos aqueles que durante nove meses seguidos comungassem na primeira sexta-feira especialmente para desagravá-Lo. Ou seja, quem cumprisse esse seu desejo não morreria em pecado e teria garantida sua felicidade eterna no Céu. Para alcançar tamanha graça, contudo, há também a obrigação de não transgredir os 10 Mandamentos da Lei de Deus. Essa garantia de salvação eterna é conhecida como a "A Grande Promessa" do Sagrado Coração.

Eis as palavras divinas dirigidas à Santa Margarida:

"Por isso, Eu te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa especial para honrar meu Coração, comungando-se neste dia e fazendo-Lhe um ato de reparação, em satisfação das ofensas recebidas durante o tempo que estive exposto nos altares. Eu te prometo também que meu Coração se dilatará para distribuir com abundância as influências de seu divino amor sobre aqueles que Lhe prestem culto e que procurem que este Lhe seja prestado." Além do santo costume da comunhão reparadora recomenda-se, de modo muito especial a cada um individualmente e a toda família, a consagração ao Sagrado Coração de Jesus. Há uma bela e muito inspirada consagração a Ele, composta pela grande santa de Paray-le-Monial, que propomos aos nossos leitores e às suas famílias.

Nossa Senhora inseparavelmente unida a Jesus Cristo

Em sua encíclica Haurietis Aquas, publicada em 1956, ano do centenário da extensão para toda a Igreja da festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus, o Papa Pio XII escreveu de maneira magistral:

"O Coração do nosso Salvador reflete de certo modo a imagem da Divina Pessoa do Verbo, e, igualmente, das suas duas naturezas: humana e divina; e n'Ele podemos considerar não só um símbolo, mas também como que um compêndio de todo o mistério da nossa Redenção. Quando adoramos o Coração de Jesus Cristo, nele e por ele adoramos tanto o amor incriado do Verbo divino quanto o seu amor humano e os seus demais afetos e virtudes, já que um e outro amor moveu o nosso Redentor a imolar-se por nós e por toda a Igreja, sua Esposa."

A Providência Divina dispôs que a Santíssima Mãe de Jesus fosse Medianeira universal de todas as graças. Ou seja, ninguém recebe graça alguma a não ser por meio d'Ela. Assim, se quisermos atendê-Lo e acrisolar a nossa devoção ao seu Sacratíssimo Coração, devemos ter uma especial devoção ao Imaculado Coração de Maria. Duas devoções inseparáveis, a tal ponto de São João Eudes, fundador da Congregação de Jesus e Maria, ensinar que ambas as devoções poderiam resumir-se em uma só, sintetizada na jaculatória "Sagrado Coração de Jesus e Maria", de tal modo ambos os corações estão unidos.

Na mesma encíclica Haurietis Aquas, Pio XII recomenda: "A fim de que a devoção ao Coração augustíssimo de Jesus produza frutos mais copiosos na família cristã, e mesmo em toda a humanidade, procurem os fiéis unir a ela estreitamente a devoção ao Coração Imaculado da Mãe de Deus. Foi vontade de Deus que, na obra da Redenção humana, a Santíssima Virgem Maria estivesse inseparavelmente unida a Jesus Cristo; tanto que a nossa salvação é fruto da caridade de Jesus Cristo e dos seus padecimentos, aos quais foram intimamente associados o amor e as dores de sua Mãe. Por isso, convém que o povo cristão -- que de Jesus Cristo, por intermédio de Maria, recebeu a vida divina -- depois de prestar ao Sagrado Coração o devido culto, renda também ao amantíssimo Coração de sua Mãe celestial os correspondentes obséquios de piedade, amor, agradecimento e reparação. Em harmonia com este sapientíssimo e suavíssimo desígnio da Divina Providência, Nós mesmo, por ato solene, dedicamos e consagramos a santa Igreja e o mundo inteiro ao Coração Imaculado da Santíssima Virgem Maria.

A plenitude do culto ao Sagrado Coração de Jesus

 No mesmo sentido apontado na citada encíclica, Plinio Corrêa de Oliveira escreveu, em artigo publicado em 2-6-1946 no semanário "Legionário": "A ideia do culto ao Coração Imaculado de Maria se relaciona com a mediação universal. Assim como no culto do Sagrado Coração de Jesus se tem em vista o íntimo do mistério de Cristo, o seu aspecto mais profundo de Redentor, assim também no culto ao Coração de Maria se tem em vista o íntimo do mistério da Mãe de Deus, pelo qual se acha em união necessária com seu Filho e assim é a mediadora de todas as graças."

No mesmo "Legionário", em matéria de 30 de julho de 1944, o saudoso escritor católico, o principal colaborador de Catolicismo, havia desenvolvido de modo mais aprofundado o comentário acima, afirmando que a devoção ao Coração de Maria leva à sua plenitude o culto ao Sagrado Coração de Jesus.

Fátima e o Sagrado Coração de Jesus e Maria

Encerramos as considerações sobre essas devoções - essenciais e perfeitas, sobretudo para os nossos conturbados tempos de impiedade e de catástrofes morais e materiais, agravadas pela guerra em curso no Leste europeu que poderá se alastrar pelo mundo - reproduzindo trecho de outro artigo do Prof. Plinio, publicado na edição de Catolicismo de junho de 1953:

"Em Fátima se inculca igualmente, com expressiva insistência, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que, ela também, tem sido posta na penumbra por certa tendência de espiritualidade muito em voga em nossos dias.

O culto ao Sagrado Coração de Jesus foi considerado por todos os teólogos como uma das mais preciosas graças com que a Santa Igreja tem sido confortada nos últimos séculos. Destinava-se ela a reanimar nos homens o amor de Deus entorpecido pelo naturalismo da Renascença, pelos erros dos protestantes, jansenistas, deístas e racionalistas.

No século passado, foi por meio desta devoção que o Apostolado da Oração produziu um admirável reflorescimento de vida religiosa em todo o mundo. E, como os males de que o Sagrado Coração de Jesus nos deve preservar crescem dia a dia, é evidente que dia a dia se acentua a atualidade desta incomparável devoção.

Contudo é preciso acrescentar que, na agravação dos males contemporâneos, a Providência como que quis superar a si própria, apontando aos homens como alvo de sua piedade o Coração de Maria, que de certo modo requinta e leva à sua plenitude o culto ao Sagrado Coração de Jesus.

Os estudos e a devoção cordimariana não são novos. Quer nos parecer, entretanto, que a simples leitura das mensagens de Fátima demonstra com quanta insistência Nossa Senhora os quer para nossos dias. A missão que Ela confiou à Irmã Lúcia foi especialmente a de ficar na Terra para atrair os homens ao Coração Imaculado de Maria. Várias vezes esta devoção é recompensada durante as visões. Este Coração Santíssimo nos aparece mesmo, na segunda aparição, coroado de espinhos pelos nossos pecados, a pedir a oração reparadora dos homens. Parece-nos que este ponto como que compendia em si todos os tesouros das mensagens de Fátima." (AgênciaBoaImprensa https://www.abim.inf.br Email:AgenciaBoaImprensa@terra.com Deixe seu comentário e compartilhe