Leão XIV: A Consolidação de Francisco

20/09/2025

O que temíamos desde o início começa a se confirmar. Leão XIV não é uma ruptura com o pontificado de Francisco, muito menos um retorno à clareza doutrinária e litúrgica que almejávamos.  

É a consolidação, a digestão, o passo hegeliano que torna "normal" o que ainda ontem era debatido.

Por Carlos Balén 

Desde o início, ficou claro: um Papa discreto, com uma muceta, sem estridência, com um ar mariano que parece restaurar a normalidade. Mas, por baixo da superfície, o roteiro é claro: consolidar o terreno conquistado e aguardar a próxima tela. Alertamos: se um Papa idêntico a Francisco tivesse surgido, a rejeição teria sido imediata. Assim, somos apresentados a um sucessor aparentemente tranquilo, que se refugia em símbolos de continuidade com a tradição, enquanto na entrevista com Elise Ann Allen ele deixa claro que joga pelas regras da Janela de Overton: sem recuos, calma forçada, mas com o ponto de partida da Fiducia supplicans já assumido.

E ele diz sem rodeios: isso é o que é dado, isso é o que é herdado, isso não deve ser tocado porque é o mínimo aceito. Daí em diante, é tudo uma questão de esperar. Esperar que aqueles que resistem envelheçam e desapareçam. Esperar que a polarização diminua quando Sarah, Burke, Müller e Schneider morrerem. Esperar que o tempo suavize o caminho.

Alguém se surpreende? Era óbvio. Leão XIV foi trazido a Roma por Bergoglio para ser Prefeito dos Bispos. Ninguém chega a esse cargo sem o aval pessoal do Papa reinante. Acreditar que este homem, colocado por Francisco no centro da máquina de nomeações episcopais, seria o restaurador era uma ilusão. Achávamos que tínhamos enganado. A realidade é outra: no conclave, alguém foi marcado. E o gol foi marcado contra nós.

Este Papa fala de unidade, de evitar a polarização. Mas a que custo? O que ele chama de "unidade" nada mais é do que domesticação. Uma Igreja que se resigna a viver com a Fiducia supplicans como ponto de partida. Uma Igreja na qual as experiências alemãs e belgas são criticadas silenciosamente, mas toleradas na prática. Uma Igreja na qual Francisco é citado como autoridade, para dizer "Não farei mais do que ele fez"... mas também "Não desfarei nada do que ele estabeleceu".

A tática é clara: preservar o que foi conquistado e normalizá-lo. Consolidar silenciosamente, sem alarde, envolvendo tudo em um tom piedoso e mariano. Hegel aplicado à eclesiologia: tese, antítese, síntese. O radicalismo de ontem torna-se o aceito de hoje, e o campo está preparado para o radicalismo de amanhã.

O grave é que muitos, talvez muitos demais, quiseram se enganar. Apegaram-se ao gesto da mozeta, ao rosário na mão, à frase piedosa. Mas a entrevista deixa claro: Leão XIV é pura continuidade, sem recuo, sem desfazer nada. Não há como voltar atrás.

Portanto, este pontificado não será um parêntesis, mas o passo lógico na domesticação da Igreja. Não é o machado que arranca a tradição, mas o cimento que remenda o corte já feito. E o mais doloroso é reconhecer que sabíamos disso. Que a evidência estava lá. Que não houve traição, mas ingenuidade de nossa parte.

O conclave não nos deu um Papa que "não fosse tão ruim". O conclave nos deu a continuação de Francisco, disfarçada de calma. E agora a única coisa clara é que estamos na próxima fase do plano. (Fonte: INFOVATICANA)

Santo Tomás de Aquino (II-II, q. 19, a. 1) define-a como um ato sobrenatural pelo qual o justo, movido pelo Espírito Santo, adquire uma docilidade especial para se submeter e conformar-se completamente à vontade de Deus,