
Graça e liberdade - Santa Teresa do Menino Jesus
Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), natural de Alençon, França, o último de nove irmãos.

Deus usou seus pais, Luis José Martin e María Celia Guerin, beatificados em 2008, e suas irmãs para dar a Teresinha uma educação cristã da mais alta qualidade, que a fez crescer no mundo da graça com extraordinária precocidade.
Por José María Iraburu
Aos 2 anos «já toma a resolução de se tornar uma freira», e aos 3 «decide não recusar nada ao bom Deus», para sempre receber sua graça. Ingressou no Carmelo de Lisieux aos 15 anos e faleceu aos 24 anos. Beata (1923), santa (1925), Padroeira Universal das missões católicas, com São Francisco Xavier (1927), tornou-se Doutora da Igreja (1997). Sua doutrina espiritual está fundamentalmente expressa em sua Manuscritos autobiográficos, escritos em três cadernos escolares, que tenham sido distribuídos em onze capítulos (I-XI). Caderno A (1895, à sua irmã, Irmã. Inés de Jesús), B (1986, à sua irmã, Irmã. Ma del Sagrado Corazón) e C (1987, à sua prioresa, M. María de Gonzaga). São conhecidos como A história de uma alma. Também há inúmeros Letra', Poesias e, e Orações. E no final de sua vida temos o Últimas conversas, anotado pela Irmã. Inês de Jesus.
A escrita que segue é uma antologia de textos de Santa Teresinha sobre a ação da graça de Deus nela. E que o Senhor conceda que os leitores que não tenham compreendido plenamente a doutrina intelectual que até este ponto expliquei sobre graça-liberdade, finalmente entender na declaração vivencial o que esse santo Doutor faz dela.
A distribuição desigual que Deus faz de suas graças, tão claramente vivenciado por Teresinha em sua própria vida, é o primeiro tema que toca em seu primeiro caderno, e que desenvolve ao longo de todos os seus escritos. Ela pode muito bem ser chamada Doutor da graça.
«Este é o mistério da minha vocação, o de toda a minha vida: o mistério, sobretudo, dos privilégios que Jesus tem dado à minha alma. Não aos que são dignos; Jesus chama aqueles a quem ama. Ou como diz S. Paulo: "Deus tem misericórdia de quem quer e compaixão de quem quer. Não é, portanto, obra nem daquele que quer nem daquele que corre, mas de Deus, que tem misericórdia" (Rm 9:15-16).
«Por muito tempo eu estava me perguntando por que Deus tinha preferências; por que nem todas as almas recebiam seus dons igualmente. Foi algo que me espantou. Vendo-o pródigos favores sobre o santos que o haviam ofendido –como S. Paulo, S. Agostinho–, obrigando-os, por assim dizer, a receber as suas graças; ou, ao ler a vida daqueles que Nosso Senhor regou de carícias do berço ao túmulo, retirando de seu caminho tudo o que era obstáculo para se elevarem até ele, e impedindo suas almas com tais favores que não pudessem macular o brilho imaculado de sua veste batismal, perguntei-me por que os pobres selvagens, por exemplo, morriam em grande número sem sequer terem ouvido o nome de Deus pronunciado».
«Jesus dignou-se instruir-me sobre esse mistério. Ele colocou diante dos meus olhos o livro da natureza. E entendi que todas as flores criadas por ele são lindas», tanto uma rosa aromática quanto linda, quanto uma margarida mínima. «Acontece o mesmo no mundo das almas, que é o jardim de Jesus. Ele tem criado grandes santos, que podem ser comparados a lírios e rosas. Mas ele também criou outros menores... A perfeição consiste em cumprir sua vontade, em ser o que ele quer que sejamos» (I,2v-r).
Toda a vida de Teresinha tem sido uma obra maravilhosa da graça de Deus. «Não é minha vida propriamente dita que vou escrever, mas sim meus pensamentos sobre as graças que Deus se dignou conceder-me»...
«A Flor [a Florzinha de Jesus] quem vai contar sua história tem o prazer de tornar públicas as iguarias completamente gratuitas de Jesus. Reconhecer que não havia nela nada capaz de atrair sobre si os olhares divinos do Senhor, e que somente a sua misericórdia tem operado todo o bem que nela há. Ele a fez nascer em uma terra santa... Ele a quis precedida por oito lírios... Ele, em seu amor, achou por bem preservar sua Pequena Flor do hálito envenenado do mundo. Sua corola estava apenas começando a se abrir, quando esse Salvador divino a transplantou para Carmelo Mountain»... (I,3v). Eu só escrevo «o que Deus fez por mim» (Eu,4r).
Um péssimo natural e uma excelente educação. O dom da graça de Deus não age em Teresinha sobre um dom de natureza saudável e excelente. Muito pelo contrário. Ela se descreve como uma menina hipersensível, dada ao choro, com um amor próprio enorme, e às vezes atacada por acessos de raiva de intensidade anormal. Transcrever de uma carta de sua mãe:
«Quando as coisas não vão ao seu gosto, ela rola no chão como uma mulher desesperada, acreditando que tudo está perdido. Tem horas que a chateação a vence, e aí até parece que ela vai se afogar. Ela é uma garota muito nervosa» (I,8r). Narra também o terrível acesso de raiva que já teve contra a empregada Victoria (II,15v-16r).
A graça divina concedeu, ao contrário, a Teresa uma educação cristã excepcional. «Deus tem se agradado de sempre me cercar de amor» (I,4v). Vou lembrar apenas de alguns detalhes muito significativos. Sua irmã Paulina, pela graça de Deus, às vezes o obrigava a exercer certas vencimentos, como superar o medo de ser deixado no escuro sozinho à noite: «Eu considero uma graça muito notável que você me acostumou, minha querida Mãe, a superar meus medos» (II,18v). Aos seis ou sete anos, indo passear com o pai, um homem e uma mulher que os cumprimentaram educadamente disseram que a garota «era muito bonita. Papai respondeu que sim: mas percebi que, por meio de sinais, disse a eles para não me elogiarem» (II,21v).
Muito leitora, a graça de Deus a livrou das más leituras. «Eu não sabia jogar, mas gostava de ler; teria passado a vida lendo. Graças a Deus, tive anjos na terra para me guiar; Eles tiveram o cuidado de escolher meus livros... Deus nunca me permitiu ler um sequer capaz de me prejudicar. É verdade que, ao ler certas histórias de cavalaria, nem sempre percebia a realidade da vida no momento; mas Deus imediatamente me deu a entender que a verdadeira glória era aquela que durava eternamente» (IV,31v-32r).
Ele recebe de Deus a graça da vocação com toda a certeza. Aos nove anos de idade «entendi que Carmelo era o deserto onde Deus queria que eu fosse e me escondesse. Compreendi com uma evidência tão viva, que não ficou em meu coração a menor dúvida. Não era o sonho de uma menina a quem se pode conduzir após si mesmo; era a certeza de um chamado divino» (III,26r).
Teve muitas mágoas na infância e adolescência. «Deus, que sem dúvida queria me purificar e acima de tudo me humilhar, permitiu que aquele martírio íntimo durasse até minha entrada no Carmelo, onde o Pai de nossas almas varreu todas as minhas dúvidas como se fosse com sua mão... Se Deus permitiu que o diabo se aproximasse de mim, Ele também me enviou anjos visíveis que me ajudaram» (III,28v-29r).
Aos dez anos sofreu uma doença misteriosa' com dores de cabeça e delírios, que pareciam falsos. Seu pai, de tanto vê-la, deu várias moedas de ouro para oferecer missas por ela em Nossa Senhora das Vitórias, no santuário de Paris. «Era necessário um milagre, e foi Nossa Senhora das Vitórias quem o operou... De repente, a Santíssima Virgem pareceu-me bela, tão bela que EU nunca tinha visto nada tão belo... Mas o que chegou ao fundo da minha alma foi o sorriso encantador da Santíssima Virgem» (III,30r). Com essa alegria, ela foi curada. Alguns anos depois, em 1887, visitando aquele santuário em Paris, «a Santíssima Virgem deixou claro para mim que tinha sido ela, na verdade, que tinha sorrido para mim e me curado» (VI,56v).
Santa muito escondida e muito popular. Bastantes santos, já em vida, foram reconhecidos como santos. Mas não foi assim no caso de Santa Teresinha. Quando morreu, não havia em sua comunidade a consciência de que haviam convivido com um grande santo. Só descobriram lendo seus cadernos biográficos. O Senhor revelou-lhe interiormente esta graça. Aquela que estava para vir a ser um dos santos mais populares do nosso tempo, até hoje, na vida ela passou escondida e despercebida.
«Recebi uma graça que sempre considerei uma das maiores da minha vida, porque nessa idade ainda não havia recebido as luzes divinas que agora me encontro inundada... Deus me fez entender isso minha glória estaria escondida aos olhos dos mortais, e isso consistiria em tornar-me um grande Santo... Esse desejo pode parecer imprudente, considerando o quão fraco e imperfeito eu era –e ainda sou agora, depois de sete anos vividos na religião–. Porém, hoje ainda sinto a mesma confiança ousada de me tornar um grande Santo, porque não me apoio nisso Eu não tenho nenhum dos meus –méritos–, mas nAquele que é a Virtude e a própria Santidade. Ele só, contente com meus fracos esforços, me elevará a si, e enchendo-me de seus infinitos méritos, me fará Santo» (IV,32r; seus sublinhados).
Aos onze anos ela se preparou cuidadosamente para a primeira comunhão, com a ajuda de Maria, sua irmã: «ela me disse os meios para se tornar uma santa fidelidade nas mínimas coisas» (IV,33r). É o caminho santo já ensinado por São Francisco de Sales, Bossuet, Jean Pierre de Caussade, S.J. e outros professores espirituais da escola francesa.
Nessa hora, diz Teresinha, o Senhor acendeu em seu coração «um grande desejo de sofrer ao mesmo tempo convencida de que Jesus tinha um grande número de cruzes reservadas para mim. Eu fui instantaneamente inundada com consolações tão grandes que as considero uma das graças mais extraordinárias que já recebi em minha vida... Eu também experimentei o desejo de amar somente a Deus, de não encontrar alegria fora dele. repetia frequentemente em minhas comunhões as palavras da Imitação de Cristo. [de Kempis]: "O Jesus, doçura inefável! Mude-me em amargura todas as consolações da terra". Esta oração fluía de meus lábios sem esforço, sem violência; parecia repeti-la, não por vontade própria, mas como uma menina que repete as palavras que um amigo lhe inspira» (IV,36r-v). A graça de Deus operando nela e com ela.
A graça faz que tudo em Teresa, incluindo suas deficiências, para o bem dela. Tudo é para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8:28). Muito precoce na leitura e no pensamento, era desajeitado no trabalho braçal e no trato com outras moças. Era muito diferente deles, e embora quisesse obter sua apreciação, não podia.
«Agora considero tudo isso como uma graça de Deus, que, querendo meu coração somente para si, EU já estava ouvindo meu apelo "mudando as consolações da terra em amargura". Eu tinha uma necessidade tão maior para ele que, certamente, EU não teria permanecido insensível as graças». Faltou-me, confessa, «habilidade para ganhar as simpatias das criaturas. Bem-aventurada falta de habilidade! Quantos e quão grandes males tem me impedido! (IV,37v-38r). «Agradeço a Jesus por me permitir encontrar apenas amargura nas amizades da terra. Com um coração como o meu, ele teria me deixado acender e cortar minhas asas. E então como poderia "voar e descansar" [Sl. 54,6) Jesus sabia o quanto eu era fraco, para me expor à tentação... Só encontrei amargura onde outras almas mais fortes que a minha encontram alegria, embora renunciem a ela porque são fiéis» (IV,38v).
«Não é, portanto, mérito meu, longe disso, tendo-me visto livre do amor das criaturas, então só a grande misericórdia do Bom Deus me preservou dele. Se o Senhor estivesse sentindo minha falta, reconheço que poderia ter caído tão baixo quanto Santa Maria Madalena. Sim, EU já sei pelas palavras de Nosso Senhor a Simão que "aquele que é menos perdoado, menos ama" [Lc VII,47]; mas aquelas palavras profundas ressoam com imensa doçura em minha alma, porque EU também sei disso Jesus tem me perdoado mais do que a Madalena, já que ele tem me perdoado antes, me impedindo de cair». Deus trabalhou com Santa Teresinha como um médico que, ao invés de curar sua filha de uma queda, vai à frente para remover a pedra do caminho para que ela não caia (IV,38v).
«Se o meu coração não tivesse sido direcionado para Deus desde o seu primeiro despertar, se o mundo tivesse sorrido para mim desde a minha entrada na vida, o que teria sido de mim?... Com quanta gratidão canto as misericórdias do Senhor! Cumprindo as palavras de Sabedoria, certo eu "Ele O retirou do mundo antes que sua malícia corrompesse meu espírito e suas aparências enganosas seduzissem minha alma" [Sb 4:11]?» (IV,40r).
O Senhor quis me chamar ao [Carmelo] antes de Celina [que era mais velha que ela], e ela merecia esse favor melhor do que eu, de fato. Mas Jesus sabia o quanto EU era fraca, e por isso me escondeu primeiro nas cavernas da pedra [Ct 2:14; Êx 33:22]» (IV:44r). «Se o céu me cobriu de graças, certamente não foi devido aos meus méritos, uma vez que ainda era muito imperfeito» (V,44r).
Da fragilidade sofrida à força alegre. Por temperamento, por ela mesma, Santa Teresinha era muito fraca em seus sentimentos, muito frágil e vulnerável. Era uma sofredora.
«Ele realmente encontrou motivo para aflição em tudo. Exatamente o oposto do que acontece comigo agora, bem Deus me concedeu a graça de não me entristecer por nada temporário. Quando me lembro do tempo passado, minha gratidão transborda em minha alma vendo os favores que recebi do céu. Em mim foi feita uma mudança tão grande que nem EU mesma me reconheço. Eu queria, é verdade, alcançar a graça do "para ter controle absoluto sobre minhas ações, ser seu dono, não seu escravo". Estas palavras de Imitação me impressionaram profundamente. Mas somente com o tempo e à custa de desejos, por assim dizer, viria ele para obter essa graça inestimável. Então ela não passava de uma garota que parecia não ter vontade própria; o que fez o povo de Alençon pensar que ela era fraca de caráter» (IV,43r-v).
«Realmente, minha extrema sensibilidade me tornou insuportável. Se aconteceu comigo chatear um ente querido sem querer, chorei como uma Madalena... E quando comecei a me consolar pela falta em si, Eu estava chorando por ter chorado. Todo raciocínio era inútil; eu não podia corrigir um defeito tão feio» (V,44v). Como ela ia entrar assim no Carmelo?... Eu precisava de uma mudança, uma graça especial. São Tomás distingue entre a graça operante e graça cooperador: «o primeiro depende apenas da graça, enquanto o segundo da graça e do livre arbítrio» (STh III,86, 4 ad 2m). Bem, o Senhor concedeu então a Teresinha, como ela mesma descreve, uma maravilhosa graça operante:
«Foi necessário que Deus operasse um pequeno milagre para me fazer crescer em um momento. E o milagre foi realizado no dia inesquecível do Natal... A noite em que Ele se torna fraco e paciente pelo meu amor, por mim me fez forte e valente. Vestiu-me com suas armas. Desde aquela noite abençoada nunca mais fui derrotada em combate algum. Pelo contrário, marchei de vitória em vitória. Comecei, por assim dizer, "uma carreira de gigante" [Sl 18,5]... Foi em 25 de dezembro de 1886 [aos 13 anos], quando me foi concedida a graça de sair da minha infância; em outras palavras, a graça da minha conversão completa... Teresa não era mais a mesma. Jesus havia mudado seu coração» (V,44v-45r).
Continuará, com o favor de Deus. (Fonte: INFOCATOLICA)
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