Do sacrifício ao ecologismo: A Missa se curva ao pensamento dominante

03/07/2025

Cidade do Vaticano - Em 8 de junho de 2025, na Solenidade de Pentecostes, o Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos apresentou ao Papa o decreto que estabelece o novo formulário da "Missa para a Salvaguarda da Criação" 

(Missa pro custodia creationis), aprovado por Leão XIV e inserido na seção Pro circumstantiis publicis do Missale Romanum, editio typica tertia (2008).

O novo texto – escrito em latim e promulgado como editio typica – se soma aos formulários "para diversas necessidades" já presentes no Missal e pretende responder, conforme declarado pelo Dicastério, à urgente necessidade de maior atenção eclesial às questões ambientais, recordada em particular pela encíclica Laudato si' e pela subsequente exortação Laudate Deum.

O conteúdo do decreto

O decreto abre com uma citação das Confissões de Santo Agostinho, inserida posteriormente para agradar ao atual Pontífice, Leão XIV. Segue-se uma síntese teológica bastante linear, segundo a qual a criação é apresentada como parte integrante da história da salvação, realizada no Mistério Pascal de Cristo. Nesse contexto, afirma-se que "a obra da criação está seriamente ameaçada" e propõe-se a introdução de uma Missa ad hoc no Missal Romano como resposta litúrgica.

Afirma-se que a Eucaristia é "fonte de luz e motivação para as nossas preocupações com o meio ambiente" e que une o cosmos ao Criador: uma orientação, esta, já presente em alguns textos litúrgicos, mas que o novo formulário pretende aprofundar.

Uma leitura teologicamente orientada

O formulário apresenta-se com uma estrutura em consonância com os demais textos para as "necessidades públicas": antífona de entrada, oração da coleta, leituras bíblicas, oração sobre as oferendas, antífona da comunhão e oração depois da comunhão. A coleta invoca o dom do Espírito para salvaguardar a obra do Criador; as leituras incluem Gênesis, Sabedoria, Mateus 6 e Mateus 8, bem como textos paulinos.

O vocabulário adotado reflete uma intenção declaradamente pastoral e educativa, orientada para uma "conversão ecológica", que também encontra expressão na celebração eucarística. As referências magisteriais são múltiplas e vão da Laudato si' ao Dies Domini, do Dominum et vivificantem à Ecclesia de Eucharistia, incluindo também homilias e intervenções de Pontífices anteriores.

Considerações litúrgicas e pastorais

De acordo com o que foi ilustrado pelo Cardeal Michael Czerny e por Monsenhor Vittorio Francesco Viola durante a coletiva de imprensa de apresentação, o novo formulário não introduz um tema completamente novo. A Criação, de fato, já está presente na liturgia: na história do Gênesis na Vigília Pascal, no simbolismo eucarístico do pão e do vinho, nos Salmos e nos textos da Liturgia das Horas.

Essa estratégia testada e comprovada de "não é novidade, Papas anteriores também fizeram" é sistematicamente usada para legitimar iniciativas questionáveis, disfarçando-as como continuidade da tradição. A intenção é clara: reduzir a resistência e fazer as pessoas digerirem escolhas que, de outra forma, seriam difíceis de justificar. Essa é claramente a lógica que anima certas mentes criativas dentro do Dicastério.

É claro, no entanto, que a "Missa pela Proteção da Criação" pretende dar visibilidade específica a esse tema, incluindo-o entre as circunstâncias públicas pelas quais se pode rezar oficialmente. Além disso, o texto é proposto em continuidade com os chamados "Quatro têmpora" e as Rogações, momentos tradicionais em que a Igreja invocava a bênção divina sobre os frutos da terra e o trabalho humano.

Uma iniciativa que reflete uma certa orientação cultural

Para além da apresentação oficial, o novo formulário insere-se num contexto eclesial cada vez mais obcecado por questões relacionadas com a sustentabilidade ambiental e a justiça climática. A centralidade atribuída ao "cuidado da casa comum", embora remete a motivações teológicas e bíblicas, é claramente também afetada pela crescente pressão cultural e política no contexto global.

É impossível não notar uma sobreposição entre a linguagem eclesial e a das organizações internacionais, com o risco de uma redução "funcional" da liturgia a um instrumento de sensibilização temática. Neste sentido, a Missa pro custodia creationis representa um exemplo de uso litúrgico para fins sociais, o que – embora consistente com algumas instâncias do magistério recente – levanta questões sobre a estabilidade da dimensão teológica do ato litúrgico.

Um formulário aberto a diferentes interpretações

O risco não é tanto o de um desvio doutrinário, mas o de uma diluição do eixo cristocêntrico da liturgia, em favor de uma tematização que, se não for bem equilibrada, pode gerar confusão ou perda de sentido. Deve-se considerar também que o formulário, embora aprovado pelo Sumo Pontífice e oficialmente promulgado, não é obrigatório nem está incluído no calendário litúrgico universal. Seu uso permanece facultativo, de acordo com as disposições gerais do Missal, e será regulamentado em nível local pelas Conferências Episcopais.

Há quem se pergunte, com razão, se, diante da profunda crise que a Igreja atravessa hoje e das emergências muito mais graves que afligem o mundo, a prioridade do Dicastério deveria ser realmente a elaboração de um novo formulário litúrgico dedicado à proteção da criação. Essa escolha também suscita uma reflexão mais ampla: em que medida a liturgia deve se encarregar das emergências ambientais e sociais? E com que ferramentas, sem desvirtuar a sua própria identidade?

O tempo – e sobretudo a forma como este novo formulário for acolhido nas comunidades locais – determinará se se tratou de uma necessidade real ou de mais uma operação fadada ao fracasso. O risco, nada remoto, é que tudo isto seja mais uma manifestação de uma abordagem eclesial que acabe por confundir a liturgia com as modas culturais do momento. (Fonte: Silere Non Possum)

Sinodalidade pomposamente promovida provou ser nada mais do que um rótulo bonito para justificar decisões já tomadas.