De Nicéia ao Vaticano II
A celebração dos milésimo septingentésimo anos do Concílio de Nicéia não tem se concentrado na afirmação da Fé diante das heresias que a negam (o que era, em essência, Nicéia) e sim num novo relançamento do ecumenismo.

A celebração dos milésimo septingentésimo anos do Concílio de Nicéia não tem se concentrado na afirmação da Fé diante das heresias que a negam (o que era, em essência, Nicéia) e sim num novo relançamento do ecumenismo. Segundo a visão da Santa Sé, Niceia é um sinal de unidade; portanto, nada poderia ser mais apropriado para esta grande comemoração do que renovar os esforços em prol da unidade cristã, particularmente no que diz respeito à união da Igreja Católica com as Igrejas cismáticas orientais. A viagem do Papa Leão XIV à Turquia, seus encontros com os líderes dessas Igrejas e seus discursos e declarações demonstram claramente que o propósito do Papa era marcado por um forte desejo de alcançar a unidade com nossos irmãos separados no Oriente.
Por Mário Caponnetto
Apressemo-nos a dizer que tal propósito ecumênico é, em si mesmo, louvável. Se, de fato, o grande Concílio de Niceia refutou a heresia ariana e estabeleceu claramente o Credo em sua oposição — o mesmo Credo que, com as variações posteriores a Niceia, professamos hoje —, consolidando assim a unidade da Igreja ameaçada pelo erro, nada parece mais apropriado do que tentar, mais uma vez, à luz da única Fé e da única Igreja, o retorno daqueles que se afastaram dela, estabelecendo como fundamento desse retorno a Fé e o pleno reconhecimento da primazia de Pedro.
Mas as coisas não se desenvolveram dessa maneira; e nada diferente poderia ser esperado, dado o rumo que o ecumenismo tomou desde as formulações do Concílio Vaticano II e o desenvolvimento subsequente que apresentou, sem variações, nos anos pós-conciliares.
O Magistério anterior ao Vaticano II não permaneceu indiferente à lamentável separação das Igrejas Orientais. Pelo contrário, Leão XIII, Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII, para citar apenas os mais recentes, dedicaram diversos documentos magisteriais ao tema, alertando para os riscos de um falso ecumenismo e, simultaneamente, exortando à unidade da Igreja sobre o firme fundamento do retorno das Igrejas separadas ao seio da única Igreja de Cristo, a Igreja Católica.
É sabido que, a partir do Concílio Vaticano II, o ecumenismo, em solidariedade com uma eclesiologia problemática (para dizer o mínimo), alterou radicalmente essa perspectiva. Os documentos conciliares dedicados ao tema, em particular o Decreto Unitatis redintegratio, omitindo claramente toda a doutrina anterior, deram início a um ecumenismo que praticamente relegou a segundo plano, embora sem negá-la expressamente, qualquer ideia de retorno das Igrejas separadas à verdadeira Igreja. Em vez disso, enfatizou-se o reconhecimento dos elementos salvíficos presentes nas Igrejas separadas, a necessidade de um diálogo fraterno centrado na caridade, na humildade e no reconhecimento mútuo do valor das diversas tradições. Essa ênfase foi acompanhada por um certo eclipse da verdade — que não foi negada, é claro, embora tenha sido matizada de certa forma — como fundamento da unidade.
O desenvolvimento subsequente do ecumenismo apenas aprofundou essa nova orientação, a ponto de formular um ecumenismo que já não reconhece a Igreja Católica como a única e verdadeira Igreja, e que inclusive sustenta que a união com aqueles que se separaram implica um enriquecimento da própria Igreja Católica, como se ela não contivesse em si a plenitude da verdade e os meios de salvação.
Esse ecumenismo, porém, nada tem a ver com o Concílio de Niceia. Naquela grande assembleia, a suprema verdade de Cristo foi afirmada em clara refutação do erro de Ário, a fórmula cristológica exata foi estabelecida e o verdadeiro Credo foi redigido, Os Padres de Niceia, sem dúvida, buscavam a unidade. Mas mantinham em mente duas coisas que desapareceram completamente do horizonte do ecumenismo tal como é praticado hoje: a saber, que o erro é o que rompe a unidade, e que a unidade só pode ser alcançada através da afirmação da verdade. Nem a caridade fraterna nem o diálogo estiveram ausentes daquele Concílio. De fato, o próprio Ário esteve presente nas deliberações; várias propostas lhe foram apresentadas, e ele foi exortado de todas as maneiras possíveis; mas sua obstinação prevaleceu, e assim ele foi excluído da unidade. posteriormente enriquecido por concílios, papas e teólogos subsequentes.
Nada disso transpareceu nesta comemoração de Niceia. Pelo contrário, repetiram-se apenas as habituais platitudes do ecumenismo conciliar, com a inevitável futilidade dos esforços empreendidos, apesar das boas intenções. De fato, a Declaração Conjunta assinada por Leão XIV e Bartolomeu I na festa de Santo André Apóstolo é um documento repleto de boas intenções, belas frases e generalidades vagas, carente de substância e vigor; sem falar na queda em certos clichês modernos, como a paz universal e um pacifismo utópico. Mencionou-se também os sessenta anos desde a Nostra Aetate, o já conhecido "cuidado com a criação" e o apelo para trabalharmos juntos por "um mundo mais justo e compassivo".
O Papa Leão XIV, em seu discurso de 29 de novembro, ao final da Divina Liturgia, propôs uma unidade que responda a certos desafios, como a busca pela paz universal, o enfrentamento da "ameaçadora crise ecológica" e o uso adequado das novas tecnologias. Um ideal de unidade bastante modesto. Talvez valha a pena lembrar que a unidade dos cristãos existe para que o mundo creia em Jesus Cristo.
Enfim, uma celebração a ser esquecida na qual o espírito de Nicéia estava ausente, coberto pelas sombras do Vaticano II. (Fonte: Adelante La Fe)






