A conversão pertence àquele tempo intermediário em que vivemos, no qual podemos verdadeiramente dizer do Reino de Deus que nos é dado "desde agora", mas "ainda não".
Por Pedro Trevijano, Sacerdote
São duas palavras-chave para entender o que significa o sacramento da Penitência. Vejamos o que significam:
1) A contrição reconcilia o pecador com Deus, mesmo antes da recepção do sacramento. A razão é clara: quem possui contrição, possui graça santificante, amor à caridade e tem sua opção fundamental colocada em Deus.
2) A atrição não justifica antes da recepção do sacramento, porque ainda não possui o amor da caridade nem tem a sua opção fundamental colocada em Deus.
3) O atrito é suficiente para nos aproximar do sacramento da Penitência. Caso contrário, a contrição que justifica o pecador seria necessária antes da recepção do sacramento e isso seria praticamente inútil, pois sempre absolveria os já perdoados.
4) O pecador com o uso da razão necessita da contrição para justificar-se, pois a justificação supõe o amor à caridade e a graça santificante.
5) Consequentemente, se a atrição é suficiente para iniciar a confissão e a contrição é necessária para obter a justificação, podemos concluir que o efeito da absolvição sacramental é infundir a graça necessária para que a atrição se torne contrita.
6) Cuide-se para não dar a impressão de que a confissão pode favorecer a falta de contrição, mas para evidenciar o caráter sacramental da remissão dos pecados e da fé na ação redentora de Cristo.
7) A passagem da atrição à contrição é análoga ao que ocorre num processo de enamoramento. A primeira coisa que se busca é o que me faz bem ("essa menina pode me fazer feliz"; comodidade para o filho pródigo voltar para o pai). Em seguida, o acolhimento bondoso nos leva a buscar o que é bom para o outro ("essa menina merece que eu a faça feliz"; gratidão lógica do filho pródigo ao pai). É claro que o primeiro tipo de amor é imperfeito e o segundo muito diverso e muito mais perfeito.
8) Recordemos que as palavras contrição, boa opção fundamental, santidade, graça santificante, temor filial e amor caritativo são equivalentes e todas se referem à pessoa na graça.
A contrição supõe da parte de Deus a concessão da sua graça, e da parte do homem «é uma dor da alma e um ódio ao pecado cometido com o propósito de não pecar no futuro» (DS 1676; D 987 ). A contrição não pode dizer-se completa sem a celebração do sacramento da Penitência, porque para ela tende ontologicamente, como expressão máxima de todo o processo de conversão e reconciliação, e é que a conversão a Deus não se realiza apenas com a compromisso de reconciliação com os irmãos, mas o processo de conversão deve realizar-se verdadeiramente até à celebração sacramental.
A contrição cristã supera o remorso, na medida em que traz consigo abertura e esperança em Deus. É uma resposta à oferta de graça de Deus e por isso se orienta para o futuro, para uma nova relação de amizade com Ele. O pecador que se arrepende sinceramente já está sob a ação do perdão divino, tendo a teologia sempre reconhecido a contrição perfeita como elemento decisivo para o perdão dos pecados. A fé nos faz ver a malícia do pecado e também o amor misericordioso de Deus, sempre pronto a nos acolher. .
A conversão pertence àquele tempo intermediário em que vivemos, no qual podemos verdadeiramente dizer do Reino de Deus que nos é dado "desde agora", mas "ainda não".
Ora, o "ainda não" indica-nos que, embora o Reino de Deus e a salvação já tenham começado, vivemos num mundo profano, onde ainda reina o poder do mal, embora fundamentalmente derrotado graças a Cristo. Por isso a conversão nunca termina, mas deve continuar até a morte. Portanto, devemos distinguir entre a primeira conversão, que corresponde à justificação e supõe reordenar a vida de acordo com a boa opção fundamental, perdida pelo pecado, e a segunda conversão octodiana, que corresponde ao esforço que todo crente deve fazer para superar e realizar o que entende ser o desígnio divino para ele, uma conversão contínua e sem fim que nos leva a crescer na virtude e a lutar contra as más inclinações, tendo a educação religiosa um papel importante a desempenhar neste ponto, tanto para quem a recebe como também para. quem o dá, pela importância das nossas convicções na nossa forma de agir.
Podemos falar também de uma neoconversão radical, como a de uma pessoa, já entregue a Deus, mas que num determinado momento, como um retiro ou alguns exercícios, penetra mais profundamente no significado da sua opção por Cristo, sendo a sua expressão posterior na vida dessa sua abordagem mais profunda de Deus. Esta seria uma nova conversão, pois esta pessoa seria o novo homem paulino. (Fonte InfoCatolica)