Como deve ser a oração do católico segundo São João Clímaco

A oração é a única forma que o cristão tem de se comunicar com Deus. Para pedir, agradecer, louvar ou simplesmente estar com Ele em busca da paz e animo para seguir adiante em sua vida. Sendo essa comunicação direta com Deus, significa que não deve ser feita de qualquer maneira e sem cuidados, mas sim da melhor forma possível.

A oração foi o ponto fundamental para todos os santos. Não há santidade sem oração. Muitos passavam muitas horas em oração. Grandes estases alcançados por eles foram através da oração. Até em nossos dias, na vida religiosa, dos mosteiros e conventos, a oração é ponto fundamental.

Muitos santos deixaram-nos conselhos e até mesmo tratados sobre a oração. Um dos santos que muito escreveu sobre a oração foi São João Clímaco. Em seu livro "Santa Escada", conhecido também como "Escada para o Céu"; dá-nos os seguintes conselhos:

"Por isso, é de saber que uma coisa é imundície na oração, outra, desterro, outra, furto, e outra, mácula. Imundície é assistir diante de Deus revolvendo no coração maus pensamentos. Desterro é ser ali o homem preso e levado a outra parte com cuidados inúteis. Furto é quando, secretamente e sem que o sintamos, se distrai e se derrama nossa atenção. Mácula é qualquer ímpeto de paixão que naquele tempo nos sobrevém e mancha nossa oração.

Quando fizermos nossa oração em companhia de outros, procuremos recolher nosso coração, e procuremos despertar interiormente nossa devoção sem mostras exteriores. Mas, se estamos sós (onde não houver ocasião de louvores humanos, nem temor dos olhos de quem nos observa), aproveitemo-nos também de figuras e gestos exteriores para ajudar a devoção. Por exemplo, bater no peito, levantar os olhos para o Céu, prostrar-se em terra, estender os braços em cruz, e outras coisas semelhantes, porque muitas vezes acontece que o espirito dos imperfeitos se levanta com isto e se conforma com movimentos exteriores.

Todos os que desejam alcançar graças do Rei e principalmente os que pedem remissão de suas dívidas, tem necessidade de grande contrição e sentimentos do coração. Se nos considerarmos presos no cárcere, ouçamos aquele que diz a Pedro: Cinge a cinta da obediência, descalça os sapatos de tuas próprias vontades; e, despido e livre delas, chega-te ao Senhor, pedindo-lhe de todo o teu coração somente que se cumpra a sua vontade. E ele logo virá a ti, tomará em sua mão o governo de tua alma para rege-la. E, levantando-te do amor do século, corrupção dos deleites, despede de ti os cuidados supérfluos, afasta as imaginações, e nega teu mesmo corpo: porque a oração não é outra coisa senão alienação e distanciamento de todo este mundo visível e invisível, isto é, que com tanta atenção te convertas a Deus, que te esqueças de todas as coisas.

Por isso, dizia o Profeta: "Que tenho eu que ver no Céu, que quis eu de ti sobre a terra, senão ligar-me sempre a ti por meio da oração sem distração alguma?" Há uns que desejam riquezas; outros honra; certas coisas mortais e terrenas. Mas, para mim, todo o meu bem e meu desejo é ligar-me a Deus, e por nele a esperança da minha tranquilidade, que só Ele pode dar-me.

A fé é asa da oração, sem a qual não pode voar ao Céu. Façamos instantemente, nós que estamos sujeitos a diversas paixões e perturbações, oração a Deus. Porque todos os que assim a fizeram, chegaram a este porto de bem-aventurada tranquilidade, depois de ter passado o golfo destas paixões e perturbações. Recordemo-nos daquele juiz do Evangelho que, ainda que não temesse a Deus, faz justiça à viúva que o importunava. E não menor o fará aquele juiz soberano, se for importunado pela alma que pelo pecado ficou viúva, porque lhe fará justiça contra o adversário de seu corpo e também contra os outros, que são maus espíritos.

Costuma o Senhor incendiar mais em seu amor aos homens agradecidos, ouvindo mais rapidamente sua oração. Ao contrário, aumenta a petição dos ingratos, para que, como os cães, com a sua fome e sede mais atiçadas pela demora, perseverem em sua demanda, pois é costume dos cães, quando se lhes dá logo o pão que pedem, abocanha-lo rapidamente e fugir de quem o deu.

Não digas depois de haver estado em oração, que nada aproveitaste. Já aproveitaste em estar ali. Que coisa pode ser mais alta do que unir-se ao Senhor e perseverar com Ele nesta unidade?

Prepara-te para a oração com perpetua oração (que é trazendo sempre o coração recolhido e devoto), e desta maneira entrará logo em calor começando a orar, e aproveitarás muito em pouco tempo". (da Redação)