O Conde de Bruissard considerava a si mesmo um homem de seu
tempo. Socialmente bem-posicionado naquela França da segunda metade do século
XIX, aderia à tristemente famosa filosofia positivista. E pior, declarava-se
ateu convicto, não titubeando em apresentar-se como tal a qualquer pessoa.
Dispunha-se inclusive a enfrentar os adversários, os católicos, com argumentos
filosóficos e "científicos" da última moda.
Por Paulo Henrique Américo de Araújo
Sorriu com sarcasmo ao ler nos jornais sobre certos fatos
extraordinários ocorridos no sul do país. Os devotos ignorantes davam crédito a
supostas visões celestes de uma pobre camponesa, conhecida por Bernadete.
Resolveu então verificar o caso pessoalmente e "apanhar a pequena
vidente em flagrante delito de mentira". Do seu
orgulhoso pedestal de incredulidade desbancaria aquilo que considerava como
"superstição".
Argumentos católicos e a graça divina
Para nós católicos, a pergunta se impõe: como quebrar a
insolência deste ateu?
São inúmeras as vias das quais dispõe a Providência Divina
para atrair a si as almas e retirá-las do abismo da incredulidade. O caminho da
apologética tem feito ateus convictos se dobrarem. A partir da imponente obra
de seus doutores, intelectuais e filósofos, a Santa Igreja Católica dispõe de
um arsenal de argumentos racionais, históricos e de bom senso que, caso sejam
estudados com imparcialidade, podem fazer ruir quaisquer sofismas.
Porém, o problema persiste: como fazer o descrente ter
boa-vontade para analisar tais argumentos?
Há uma resposta imediata e intuitiva ao problema: é preciso
que a ação da graça disponha o ateu a reconsiderar suas posições. Enfrente o
incrédulo que não tenha preconceitos e se mantenha de consciência aberta, que
nos argumentos católicos ele descobrirá um magnífico palácio de lógica e de
coerência.
Megan Hodder, jovem inglesa, ateia convicta desde a
adolescência, resolveu desafiar a doutrina católica. Antes do confronto, relata
ela que "considerava a religião irrelevante em sua vida pessoal e algo
que se relacionava apenas com notícias violentas e extremistas". Confessa
que lia avidamente os expoentes do ateísmo contemporâneo tais como Richard
Dawkins, Sam Harris e Christopher Hitchens, cujas ideias eram tão parecidas com
as suas que podia empurrar quaisquer incertezas que tivesse para o fundo da
mente. No fim das contas, qual alternativa havia para o ateísmo?
No entanto — e aqui entra honestidade intelectual — Megan
não estava satisfeita em estudar apenas o lado ateu. Começou então a "pesquisar
as ideias dos mais egrégios inimigos da razão, os católicos", a fim de
defender com mais rigor sua "visão de mundo". Podemos afirmar que a graça
preparou esse confronto com a Igreja e foi justamente aí que as coisas começaram
a mudar.
Ao se aprofundar na obra de Santo Tomás de Aquino — o maior
dos filósofos católicos — percebeu que "confiar nos neo-ateus para
argumentar contra a existência de Deus era um erro: Dawkins, por exemplo, dá um
tratamento propositalmente superficial a Santo Tomás em 'Deus, um delírio',
lidando apenas com um resumo das cinco vias do Aquinate, distorcendo as provas
da existência de Deus". Ao analisar atentamente as ideias
aristotélico-tomistas, Megan descobriu nelas "uma válida explanação do
mundo natural, contra as quais os filósofos ateus tinham fracassado em refutar
de modo coerente".
Sua jornada intelectual para desbancar o catolicismo
conduziu-a, pelo contrário, à adesão à Santa Igreja e, por fim, ao batismo e à
confirmação, ocorridos na Páscoa de 2013.
Caso semelhante se deu com Patrick Flynn, um americano que
abandonou seu pouco instruído catolicismo da infância e se transviou para as
mazelas do ateísmo durante a adolescência. Contudo,
resolveu debruçar-se sobre a doutrina de Santo Tomás de Aquino, após uma "crise
existencial". Percebeu assim que a filosofia perene do grande doutor católico
dava respostas coerentes, lógicas e firmes onde os ateus plantavam somente
lacunas e contrassensos.
Patrick declara: "Eu me converti primeiro ao tomismo
e só depois ao catolicismo! É uma visão de mundo onde há consistência e
responde a tudo de modo rigoroso e belo. Essa consistência e coerência, eu só
as encontrei na Igreja Católica".
Um sorriso da graça converte até empedernidos
Mas a conversão de um ateu pode encontrar outros obstáculos.
E se de antemão ele não estiver disposto sequer a tomar contato com nossas
razões, como fazer essa alma converter-se? Talvez o Conde de Bruissard fizesse
parte deste número. Para ele restava o último recurso da graça.
Como vimos, o Conde foi ao encontro de Bernadete, camponesa
semianalfabeta, pobre e de saúde precária, mas que tinha sido agraciada com 18
aparições de Nossa Senhora em Lourdes. Não podia haver maior discrepância de
forças: a menina ignorante e o homem maduro, seguro de si e de coração
endurecido. Como a graça pode dispor um confronto tão desproporcional?
Bruissard encontrou a vidente à porta de sua casa,
remendando meias. Que cena desprezível para o orgulhoso descrente! Talvez
pensasse ele: como toda essa gente se deixa levar pelas historietas desta
pequena?
Pediu a Bernadete que lhe contasse sobre as aparições. Por
fim, perguntou como era o sorriso da "bela senhora". O conde relata que a
pequena pastora o olhou admirada, e após um momento de silêncio, disse: "Oh!
Era preciso ser um ente celeste para poder imitar aquele sorriso".
A resposta singela e, em boa medida, poética deve ter
produzido um rude golpe na arrogância do ateu, mas ele não arrefeceu o
combate. "Não poderia imitar o sorriso da Virgem?", disse o
conde, "Sou um incrédulo e não acredito nas tuas aparições".
Bernadete assumiu um ar de tristeza e respondeu: "Então,
pensa que sou uma mentirosa?". O homem sentiu-se desarmado e confessa que
neste momento esteve a ponto de se ajoelhar e pedir perdão: mentirosos não se
expressam como esta menina.
A vidente replicou: "Visto que é um pecador, vou
imitar-lhe o sorriso da Virgem Santa". Era como se dissesse: o melhor
argumento contra o seu ateísmo é o sorriso de Nossa Senhora.
Eis a impressionante sequência do ocorrido contado pelo
próprio conde: "A criança ergueu-se muito lentamente, juntou as mãos e
esboçou um sorriso celeste como eu nunca vira em lábios mortais. A sua figura
resplandeceu-se de um reflexo perturbador. Sorria ainda com os olhos voltados
para o céu. Eu permanecia imóvel diante dela, persuadido de ter visto o sorriso
da Virgem no rosto da vidente".
O ímpio pretensioso dobrou-se diante da delicada menina.
Após essa entrevista, o conde dirigiu-se à gruta das aparições e se converteu.
Tinha perdido esposa e dois filhos e, por isso, abandonado a fé. Dali em diante
passou a viver com o sorriso da Mãe de Deus na memória.
Quando todos os argumentos racionais contra o ateu falham,
resta a ação de Nossa Senhora por meio de seus filhos pequenos, humildes e
desconsiderados diante do mundo. Eles, na verdade, são grandes combatentes,
gigantes da graça. (Fonte Agência Boa Imprensa https://www.abim.inf.br )