Catolicismo e pobreza
Hoje é muito difícil a convivência do Cristão com aspecto da pobreza. Tudo que o cerca só leva a riqueza. O judaísmo prega a riqueza, o Islamismo, embora de forma moderada, não é totalmente contra, os evangélicos a incentivam por todos os meios.Sem contar esses exemplos contrários vistos em outras religiões, no dia a dia do católico é onde está de forma bem declarada a pregação da riqueza. Hoje não é mais o ser que vale, e sim o ter. Medem-se as pessoas através dos bens que possuem.
É incrível como até mesmo em fichas de trabalho ou para obtenção de crédito há sempre uma listinha onde o candidato pode anunciar seus bens. É uma lista com algumas perguntas assim: tem casa própria? Carro? Quantos aparelhos de TV? Quantos banheiros?, etc. Como se pelo simples fato da pessoa possuir esses e outros bens já significasse que ela é uma pessoa íntegra, esforçada, honesta, capacitado para o cargo ou para o crédito. Uma pergunta que nunca é feita é: como foi que a pessoa adquiriu todos esses bens? Com trabalho? Herança? Ou...? Enfim sempre há um ou..., mas as empresas não estão interessadas. Basta ter, ter em abundância. Os ladrões, os sequestradores, os bandidos também tem... É esta a qualificação do homem atual.
Só que o catolicismo é a religião da pobreza. Quem tem tempo para os bens, não tem para Deus. Jesus em toda a sua vida pública sempre deixou isso bem claro em suas parábolas. Quem não se lembra por exemplo do Jovem rico e de muitos outros fatos da vida de Jesus?
São Francisco, o mais fiel seguidor do caminho de Jesus, definiu o seu carisma com a escolha pela pobreza, e foi radical. Enquanto que o jovem rico do Evangelho saiu triste pois possuía muitos bens, São Francisco entregou tudo de volta ao seu pai, até as vestes e seguiu a Cristo sem nada. Nos primeiros séculos da ordem Franciscana a condição maior para o candidato entrar na ordem era dar todos os seus bens aos pobres.
E agora... Como conciliar riqueza e catolicismo? Fica aqui a pergunta. Seu coração é que vai responder. Mas lembre-se, Deus não quer os mornos, que ficam com pé de um lado e outro do outro lado. Deus quer pessoas radicais iguais a São Francisco. Esse é o verdadeiro chamado.
Tenho observado entre os católicos e infelizmente até na Ordem Franciscana Secular que muitos irmãos se escondem separando totalmente a pobreza interior da exterior. Me parece que Jesus não disse ao jovem rico:" Olha, use os seus bens como se não os tivesse, não dê muita importância", me parece sim" Vai, dá tudo que tens aos pobres e segue-me". Jesus não quer meios santos, que digam:
"Olha eu sou pobre interiormente," mas vive num palácio, mas procura alimentos requintados, não dispensa o luxo no vestir, não dispensa as recreações finas, etc. O corpo é o templo do Espírito Santo, mas esse corpo totalmente oculto e coberto pelos bens materiais será que ao menos deixa uma brecha para a vida e a permanência do Espírito Santo? Ao meu ver não pode haver essa separação tão apregoado nos dias atuais de que o que vale é a intenção, de que posso ser rico exteriormente e pobre anteriormente. Bem diz o ditado popular, "de boas intenções o inferno está cheio".
Faz algum tempo assisti pela televisão a reportagem sobre o nascimento de um rico. Na verdade era sobre o nascimento do filho de um apresentador muito conhecido e famoso. A criança recém-nascida foi cercada de todos os cuidados. O pai, muito orgulhoso foi entrevistado ainda no hospital. Naquele dia nasceram também muitas outras crianças, inclusive uma pobrezinha que logo foi abandonada pela mãe e foi parar num orfanato. Então um dia eu disse para um colega: "Olha só que tristeza, nasceu o filho do apresentador..." Ele ficou admirado com esta minha observação. Então eu lhe disse: " Sim porque para esta criança um dia, quando crescer e quando menos esperar, Jesus dirá: "Vai, dá tudo que tens aos pobres e segue-me", Ele simplesmente sairá triste, pois terá tantos bens que não poderá deixá-los. E o jovem pobre, do orfanato, ao receber a mesma ordem dirá: "Senhor estou pronto, não tenho nada, leva-me".