Castidade; difícil para os dias atuais, mas indispensável para a salvação
Um dos maiores empecilhos da atualidade para a salvação das almas é a castidade. Isto porque o mundo moderno em nada ajuda aqueles que desejam manter-se castos. A moda, os costumes, uma educação carente de valores morais, a falta de religiosidade e a busca de uma falsa felicidade imediatista tornam a castidade para alguns em algo impensado e mesmo impossível.
Para aqueles que buscam a Deus e tem sua esperança de felicidade não neste mundo, mas sim na vida eterna, a castidade é possível e normal. Comprovam isto as milhares de pessoas castas das ordens religiosas, cujo principal requisito é este, e outros milhares de pessoas leigas, que mesmo no mundo, levam uma vida casta conformes com a lei de Deus e na esperança da salvação eterna.
A castidade esteve presente em todos os séculos e em nossos dias sofre grande perseguição de uma sociedade devassa e voltada unicamente para o mundo.
Os santos foram castos e por isso mesmo receberam já em vida muitos benefícios de Deus. Viveram, apesar das tribulações, uma felicidade que só a castidade trás. Lendo os escritos dos santos, nota-se que a castidade, que envolve muitos dos sentidos, como a vista, o tato, o paladar; sempre estão presentes no sentido de serem totalmente dominados como requisito básico para quem deseja uma aproximação com Deus.
Muitos santos escreveram muito sobre o tema da castidade além de que deram o exemplo com suas vidas.
São João Clímaco escreveu um capítulo inteiro sobre o assunto e suas palavras com mais de 1400 anos ressoam até hoje para todos aqueles que buscam a vida com Deus; que pensam com seriedade em sua salvação e que veem as coisas do mundo como algo passageiro onde não vale a pena investir. Eis o que diz o Santo em seu livro Santa Escada:
"Dissemos que um dos filhos da gula é a concupiscência carnal. Aqueles que guardam os preceitos do jejum e da abstinência não são dados a luxúria; pois ainda que permaneçam filhos de Adão e mortais, muito se aproximam dos Anjos. Deus assim dispôs, diz Gregório Nazianzeno, para que não fosse imortal também o vosso dano.
Castidade é uma virtude que nos torna familiares e vizinhos das substâncias altíssimas e incorpóreas. Castidade é alegre aposento e antecâmara de Jesus Cristo. Castidade é escudo Celestial do coração terreno. Castidade é abnegação da natureza humana e o maravilhoso voo da substância mortal e corruptível às substâncias Imortais incorruptíveis. Casto é aquele que com um Amor venceu outro amor. Casto é aquele que com o fogo do espírito venceu o fogo da carne.
Continência é o nome geral de todas as virtudes. Por que toda a virtude pode chamar-se continência e freio do vício contrário.
A regra da perfeita da castidade é esta: devemos mirar os corpos animados com a mesma simplicidade com que miramos os inanimados, os irracionais e os racionais.
Nenhum daqueles que trabalham por alcançar tal virtude, pense que por seus trabalhos ou indústria há de alcançá-la. Por que não é possível a ninguém vencer a própria natureza. Só com ajuda Dele o conseguirá, pois é sabido que o mais débil é vencido com o mais forte.
O começo da castidade é não consentir em pensamentos desonestos, nem em torpes fantasias. O meio é ser algumas vezes inquietado em movimentos sensuais, que procedem de estar repletos de prazeres. O fim é ter mortificados os movimentos desordenados, mesmos os que poderiam surgir durante o sono.
Não é casto somente quem se guardou limpo do lodo desta carne, mas muito mais aquele que sujeitou perfeitamente os membros desse corpo à vontade do espírito.
Feliz é, por certo, aquele cujo coração não se altera com a vista de nenhum corpo ou beleza. Feliz é aquele que com o amor e a contemplação da formosura Celestial vence o perigo das imagens captadas pelos olhos.
Aquele que triunfa sobre este vício com a virtude da oração é semelhante a um leão em combate, fazendo fugir seus inimigos. Aquele que desarmou e aniquilou totalmente o impacto desta paixão, ainda que esteja vivo na carne parece que já ressuscitou da sepultura.
Se é argumento certo de verdadeira e perfeita castidade, não padecer movimentos sensuais nem entre sonhos, também é certo como sintoma de sensualidade aquele que, mesmo velando padece, só com a concepção dos maus pensamentos, os efeitos da concupiscência.
Aquele que, com suores e trabalhos, batalha contra esse adversário, é semelhante ao que derruba seu inimigo com uma funda. Aquele que luta armado de abstinência e de vigílias, é semelhante ao que fere com crava, mas aquele que está revestido de altíssima humildade, perfeita mortificação da ira, e desejo dos bens celestiais, é semelhante ao que matou seu inimigo e enterrou debaixo da areia. Por areia entende-se o conhecimento de que somos pó e cinza, de modo que, depois da vitória não fique matéria de vanglória.
Assim uns tem este tirano preso com a corrente dos trabalhos, outros com a profunda humildade, outros com a especialíssima luz e favor do céu. Os primeiros são comparados a lua cheia; os segundos ao luzeiro da manhã, os terceiros ao sol do meio-dia; e todos têm seu lugar no céu.
A raposa se finge adormecida para caçar o pássaro: o demônio, algumas vezes, finge castidade em nosso corpo deixando de tentar- nos durante algum tempo, a fim de que com esta falsa confiança, nos exponhamos há perigos em que podemos perecer.
Não creias, em tempo algum, no lado de tua carne, nem te fies de ti mesmo, até que depois de ressuscitado, vás receber Jesus Cristo. Não deve-se confiar se por virtude de abstinência, deixas de cair, porque tão pouco comia aquele que foi precipitado do céu nos abismos. Alguns homens doutíssimos definem a renúncia como uma inimizade e guerra perpétua contra o corpo, é contra a concupiscência da gula.
Os principiantes que caem no vício da carne, frequentemente caem por dar-se a deleites e bom tratamento do corpo. Os intermediários costumam cair, não só pelo regalo da carne mas também pela soberba do espírito, a fim de que por ela conheçam sua própria enfermidade e miséria. Os perfeitos, se caem, caem geralmente por terem julgado os outros". (da Redação)