A última batalha: a secularização do Santíssimo Sacramento

13/08/2025

A história da Igreja é, em grande medida, a história de uma batalha constante: aquela que o inimigo trava contra a Sagrada Eucaristia.  

Para compreender a magnitude desse combate, basta observar os momentos de maior fratura. No século XVI, contra toda a lógica e o testemunho unânime das Escrituras, os protestantes reduziram a noção da Presença Real ao negar a transubstanciação. 

Por Miguel Escrivá 

Para eles, a Eucaristia deixou de ser o verdadeiro sacrifício de Cristo sacramentalmente renovado e tornou-se um mero sinal, esvaziado da substância que é o coração da nossa fé. Na onda modernista, o ataque concentrou-se não apenas na definição dogmática, mas também no cuidado prático: quanto menos reverência, melhor. Pães manipulados por todos, formas improvisadas, cálices de barro ou barro, gestos descuidados. Foi uma dessacralização progressiva, uma pedagogia silenciosa que visava acostumar o povo de Deus à perda do sagrado. No entanto, uma vez esgotadas essas táticas mais grosseiras, a ofensiva assumiu formas mais sutis. Sob o pretexto de "aproximar Jesus das pessoas" ou "despojá-Lo de ornamentos para se concentrar nEle", uma tendência perigosa se espalha hoje: a secularização do Santíssimo Sacramento. O Sacrário se torna um móvel de design minimalista e sem graça, quase invisível; ostensórios são reduzidos a simples suportes que se assemelham mais a recipientes do que a tronos; e a exposição do Santíssimo Sacramento é improvisada em jardins, praias ou salas multiuso, acompanhada de violões, relaxamento e dinâmicas de grupo.

Essa tendência é mais perigosa do que muitos dos abusos litúrgicos das últimas décadas, porque não é tão óbvia, apresenta-se com uma aparência de normalidade e pode enganar até mesmo famílias católicas bem-intencionadas, que fomentam em seus filhos uma relação inadequada com a Eucaristia. Há uma certa aparência de respeito, mas a estrutura em que a Presença Real se insere a equipara a algo banal.

Se, em vez de construir igrejas com seus altares e retábulos, o Santíssimo Sacramento tivesse sido protegido em qualquer praia ao entardecer ou na sala de estar de uma casa como apenas mais um elemento decorativo, a fé dificilmente teria sobrevivido. Não se trata de ostentação ou luxo, mas de oferecer a Deus o melhor que temos à nossa disposição. Se o melhor que uma comunidade pobre pode apresentar é um simples sacrário em uma humilde capela, ele será tão digno quanto a basílica mais imponente do mundo, porque representa o maior esforço e cuidado de quem o oferece.

O problema não é a ostentação, mas sim a hierarquia de prioridades: evitar que o sagrado se dilua no lugar-comum. Ao Senhor, presente entre nós, devemos dedicar o nosso maior esforço, todos os nossos meios e o nosso cuidado, não reduzi-lo ao cotidiano sob o pretexto de "valorizar o simples". O cotidiano não é mau, mas o que é de Deus deve estar acima do cotidiano, para que reine com a dignidade que merece. Nossos corações fechados e nossas limitações humanas precisam dessa máxima.

Não se trata de legalismo frio. É algo muito mais profundo: a verdade teológica da Encarnação e da Presença Real exige sinais, espaços e gestos que a revelem e a salvaguardem. Deus feito homem, que escolheu esconder-se sob as humildes espécies do pão, merece que tudo ao seu redor seja orientado para a manifestação de sua realeza e santidade. É por isso que a Igreja, com séculos de sabedoria litúrgica, ergueu templos e não meros salões, ergueu altares e não simples mesas, guardou a Eucaristia em tabernáculos que são porta-joias da alma e não prateleiras de catálogo.

As normas canônicas e litúrgicas são claras e inequívocas. O Código de Direito Canônico, em seus cânones 941 a 944, estabelece que a exposição do Santíssimo Sacramento deve ocorrer em local digno, seguindo as prescrições dos livros litúrgicos, e que qualquer procissão pública requer autorização do Bispo diocesano. O Ritual Romano e a Instrução Eucharisticum Mysterium especificam que o local de exposição deve favorecer a oração e o recolhimento, ser livre de distrações, adornado com sobriedade e beleza e protegido de todo risco de profanação. A Redemptionis Sacramentum adverte contra qualquer banalização ou "espetacularização" do culto eucarístico, lembrando que sua finalidade é a adoração, não a animação social.

Essas normas não são uma formalidade: são a tradução jurídica de um princípio teológico. A forma protege a substância. O cuidado primoroso na exposição do Santíssimo Sacramento é uma confissão de fé: cremos que o próprio Cristo, Salvador do mundo, está ali. Quando o Santíssimo Sacramento é colocado num jardim, em meio a música suave ou atividades em grupo, o sentido da adoração se dilui. Quando a custódia é reduzida a um mero suporte, a grandeza dAquele que está presente nela também é simbolicamente minimizada.

A história mostra que cada vez que o povo de Deus perde o sentido da sacralidade da Eucaristia, toda a sua fé vacila. Portanto, manter a distinção entre o sagrado e o comum não é uma opção acessória, mas uma exigência intrínseca daquilo que se professa. (Fonte: INFOCATOLICA)

Doutora da Igreja, Padroeira da Itália, lutou pela Cristandade e promoveu Cruzada contra os infiéis.