A respeito do Ofertório da Missa, pergunto: Qual a diferença entre oferenda, oferta e dons?

18/07/2025

Pergunta — De uma diocese para outra, noto uma linguagem diferente daquilo que no meu tempo de jovem se chamava Ofertório, ou seja, a parte da missa depois do sermão e antes da consagração.

Algumas paróquias designam esse rito como "apresentação das oferendas", outras como "apresentação das ofertas" e algumas como "apresentação dos dons". Qual a diferença entre oferenda, oferta e dons? Parece-me que oferta é no sentido material, e dons no sentido espiritual. O pão e o vinho são oferendas e não dons. Explique-nos isso, por favor.

Por Padre David Francisquini

Resposta — Um dos problemas da reforma litúrgica de Paulo VI — e não dos menores — foi a proliferação de versões diferentes, pelo fato de a missa não ser mais celebrada na língua universal da Igreja ocidental, o latim, mas nas línguas vernáculas.

Nem sequer as edições de uma mesma língua são uniformes. Por exemplo, há duas traduções para o português: uma preparada pelas conferências episcopais de Portugal e de suas antigas colônias na África, e outra edição brasileira, preparada pela CNBB. Aliás, nem sempre a tradução foi feita diretamente do original latino, porque a tradução da primeira edição típica do missal de Paulo VI foi praticamente uma tradução da versão francesa.

Se à proliferação de versões linguísticas acrescenta-se a possibilidade oferecida ao sacerdote de durante a celebração escolher ad libitum (ou seja, à vontade) entre várias fórmulas, disso resulta a atual cacofonia litúrgica, pela qual raramente se assiste a duas missas iguais. Basta pensar que na parte central — a consagração — o ritual de Paulo VI oferece quatro "orações eucarísticas", em substituição ao único cânon romano da missa anterior, que não tinha mudado desde São Gregório Magno (590-604).

No que concerne diretamente à pergunta do missivista, ou seja, as denominações do antigo Ofertório, existe de fato a variedade de formulações que ele aponta: "apresentação das oferendas", "apresentação das ofertas" e "apresentação dos dons". Isso corresponde, no contexto da Missa Nova, a fatores linguísticos, culturais e pastorais. A começar pelo fato de que, em Portugal, tende-se a usar mais "oferendas" ou "dons", mantendo um tom mais tradicional e próximo do vocabulário litúrgico latino, enquanto no Brasil "ofertas" é mais popular, pela proximidade com o vocabulário cotidiano.

De fato, do ponto de vista linguístico, o vocábulo "oferenda" refere-se a coisas oferecidas em um contexto religioso, especialmente o pão e o vinho que serão consagrados, mas também pode incluir ofertas em espécies. Apesar disso, é uma palavra mais tradicional e sacralizada, enquanto "oferta" tem um uso mais amplo, podendo até ser financeiro ou material, e, em qualquer caso, é mais comum no uso cotidiano (oferta de ajuda, oferta de dinheiro etc.).

Algumas dioceses preferem esse termo por ser mais acessível ao povo. Por sua vez, o termo "dons" tem uma conotação mais teológica e simbólica, remetendo não só aos elementos materiais, mas também ao dom da vida, do trabalho, da criação, como uma entrega total a Deus. Por isso é mais usado nos livros oficiais e nos trabalhos acadêmicos.

Diferenças do ponto de vista teológico e litúrgico

A tradução litúrgica oficial da terceira edição típica do novo Missal Romano intitula essa parte da celebração como "Preparação dos dons" (nas versões anteriores empregou-se "Preparação das oferendas"). No contexto do rito de Paulo VI, trata-se não somente do oferecimento do pão e do vinho, mas também da coleta dos fiéis, como sinal da entrega da comunidade. Por isso é que se restaurou o costume da Igreja primitiva de que os fiéis vão até ao altar num desfile para dar seu óbolo. Em algumas paróquias mais inventivas, a oferta pode consistir em alimentos, roupa usada ou qualquer objeto de utilidade para suas obras sociais, o que contribui não pouco para dessacralizar ainda mais o ritual.

O fato de que haja diferenças semânticas nas sucessivas traduções do novo missal e no uso quotidiano das paróquias, levanta um outro problema — não enfocado pelo nosso missivista, mas que, a meu ver, é mais relevante. Trata-se da abordagem completamente diferente, do ponto de vista teológico e litúrgico, entre o antigo e o novo missal a respeito do Ofertório.

As mudanças nos nomes e na estrutura das partes da Missa refletem, de fato, uma transformação significativa na compreensão teológica da Santa Missa, especialmente após as reformas litúrgicas conduzidas pelo Consilium, sob a liderança de Mons. Annibale Bugnini, após o Concílio Vaticano II.

No missal anterior à reforma, a segunda parte da Missa era intitulada "Missa dos Fiéis", por oposição à "Missa dos Catecúmenos", que era a parte da missa à qual os não-batizados podiam assistir (ou seja, desde as orações ao pé do altar até as leituras da Epístola e do Evangelho e a recitação do Credo). Essa segunda parte da missa iniciava-se com o "Ofertório" ou "Preparação para o sacrifício". As orações dessa seção ressaltavam o caráter propiciatório do sacrifício do altar, referindo-se ao pão e ao vinho como ofertas já destinadas a se tornarem o Corpo e o Sangue de Cristo, em satisfação pelos nossos pecados e para tornar Deus propício para os vivos e os defuntos.

Por exemplo, a primeira das orações do Ofertório, quando o padre eleva ligeiramente a patena com a hóstia, diz: "Recebei, santo Pai, onipotente e eterno Deus, esta hóstia imaculada, que eu vosso indigno servo, vos ofereço, ó meu Deus, vivo e verdadeiro, por meus inumeráveis pecados, ofensas, e negligências, por todos os que circundam este altar, e por todos os fiéis vivos e falecidos, a fim de que, a mim e a eles, este sacrifício aproveite para a salvação na vida eterna. Amém." Note-se que o sacerdote oferece a "hóstia imaculada", antecipando sua transubstanciação na consagração.

Mudanças alheias à tradição litúrgica da Igreja

Com a promulgação do Missal de Paulo VI em 1969, houve uma mudança terminológica e estrutural significativa. O termo "Ofertório" foi substituído por "Preparação dos Dons", e a segunda parte da missa passou a ser chamada de "Liturgia Eucarística". Essa reformulação visava realçar o caráter de Ceia e quando fala de sacrifício acentua que é de "ação de graças" (é o que a palavra eucharistia que dizer). Por isso, a nova "Preparação dos Dons" omite toda referência a uma antecipação explícita do sacrifício e destaca a participação ativa da assembleia.

A bela oração inicial do rito antigo, acima reproduzida, foi substituída por uma adaptação de uma oração ritual judia de bênção, tirada de um tratado do Talmud chamado Berakoth (bênçãos), que diz: "Bendito sejais, Senhor, Deus do Universo, pelo pão que recebemos da Vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano: que agora Vos apresentamos e que para nós se vai tornar Pão da vida" (e, na fórmula de apresentação do vinho, "fruto da vide" e "cálice de salvação").

Além da origem completamente alheia à tradição litúrgica da Igreja, essa bênção, rezada no contexto de uma missa católica, merece alguns graves reparos. O primeiro deles é que não têm uma conotação católica — e nem sequer cristã! — pois o "Senhor, Deus do Universo" pode ser Jeová, Alá ou até Júpiter, pois foi suprimida a oração dirigida à Santíssima Trindade do antigo Ofertório. O segundo reparo é que faz parte da própria essência do propósito da Missa que o sacrifício seja agradável a Deus, aceitável e aceito por Ele. Enquanto a oração do missal antigo destaca que, após a Redenção, o único corretamente aceito por Deus é o sacrifício de Cristo, na berakha judaica do rito novo a própria natureza da oblação é distorcida numa simples troca de dons entre Deus e o homem: o homem oferece o pão e o vinho que Deus transforma no "pão da vida" e no "cálice da salvação".

De outro lado, em vez de sublinhar a remissão dos pecados dos vivos e dos mortos, o novo rito destaca o alimento e a santificação dos presentes. Além do mais, a alocução "será para nós" induz os fiéis a um erro subjetivista, porque sugere que o pão e o vinho serão pão de vida e bebida de salvação, não na realidade, mas somente "para nós", isto é, "segundo nós cremos". Tanto mais quanto diz que o pão e o vinho serão alterados espiritualmente, sem especificar que serão alterados substancialmente para se transformarem no Corpo e no Sangue de Cristo.

Alteração para não suscetibilizar protestantes?

Cabe destacar também o uso sistemático do plural na oração, onde antes havia uma referência singular ao sacerdote. Isso sugere que tanto os dons oferecidos quanto o próprio sacrifício são atribuíveis a todo o povo reunido. É certo que os fiéis devem se oferecer pessoalmente a Deus, assim como seus dons, em união ao oferecimento de Cristo (o que é belamente simbolizado pela gota de água que é acrescentada ao cálice de vinho), e nesse sentido trata-se de um sacrifício "meu (do sacerdote) e vosso", como diz o Orates fratres.

Mas por não haver mais qualquer distinção clara entre o sacrifício humano e o divino, bem como pela omissão de mencionar o celebrante em particular, as palavras de "preparação dos dons" do novo rito dão a entender que o sacrifício de Cristo propriamente dito também é obra de toda a assembleia, e não somente do sacerdote in persona Christi.

Essas omissões e ambiguidades levam a obliterar a singularidade fundamental da Vítima a ser sacrificada e a propiciar que a participação na imolação de Cristo, que é a essência da Santa Missa, se transforme em um encontro filantrópico ou um banquete de caridade.

Dir-se-ia que os reformadores quiseram evitar as críticas que os protestantes fazem à missa católica e, em particular, ao Ofertório tradicional, claramente expresso neste comentário do pastor e professor Luther D. Reed, em sua obra A Liturgia luterana: "Todos os reformadores rejeitaram o Ofertório Romano e sua ideia de uma oferta pelos pecados feita pelo sacerdote, em vez de uma oferta de agradecimento feita pelo povo. Lutero, com sua convicção de que o sacramento é um dom de Deus ao homem e não uma oferta do homem a Deus, chamou o Ofertório romano de uma abominação onde a oblação se ouve e se sente em toda parte."

Por isso, os luteranos — como os autores da reforma de Paulo VI — reduziram o Ofertório à apresentação de dons pelo povo e à preparação de pão e vinho para a comunhão.

Esperemos que o antigo Ofertório seja restaurado e que a Missa tradicional goze em breve de plena liberdade. (Fonte: Agência Boa Imprensa)