A queda de Amoris Laetitia está começando?

03/06/2025

Nestes primeiros dias de um novo pontificado, muitos terão pensado no que acontecerá com Amoris Laetitia 

a exortação pós-sinodal do Papa Francisco que introduziu indiretamente o divórcio na Igreja, permitindo a comunhão sem arrependimento ou propósito de emenda para aqueles que vivem em uma nova união de caráter adúltero. 

Por Bruno M

Algo precisa acontecer com isso, porque a verdade é que Amoris Laetitia nega vários princípios fundamentais da fé e da moral católicas: a existência de atos intrinsecamente maus, o princípio de que o fim não justifica os meios, a certeza (definida em Trento) de que Deus sempre concede a graça necessária para não pecar, a certeza de que Deus não quer que pequemos, a obviedade de que pecados mortais são apenas isso, pecados mortais que levam ao inferno e não simples fracassos em alcançar um ideal, etc. Qualquer católico está disposto a aceitar o magistério da Igreja, mas não podemos ter crenças contraditórias, porque ad impossibilia nemo tenetur. É impossível manter simultaneamente a Tradição dogmática e moral constante da Igreja e vários ensinamentos de Amoris Laetitia que negam essa Tradição. Consequentemente, parece inevitável concluir que esses ensinamentos específicos da Amoris Laetitia não constituem verdadeiro magistério e devem ser abandonados. 

Diante dessa situação, e supondo que não se queira abandonar a fé constante da Igreja, há duas possibilidades: ou abolir formal e solenemente a Amoris Laetitia, condenando seus erros, ou deixá-la cair no (talvez) caridoso esquecimento e limitar-se a recordar as verdades de moral e fé que foram negadas na exortação. Embora, a priori e por uma questão de clareza, a primeira opção pareça mais aconselhável, é possível considerar que é preferível evitar o escândalo de uma condenação e que é apropriado, simplesmente, reafirmar a verdade católica para dissipar qualquer dúvida. 

Esta é uma questão prudencial que cabe a Leão XIV decidir, no exercício de sua missão de confirmar seus irmãos na fé. E parece que ele já começou a fazê-lo. Na Missa do Jubileu das Famílias, celebrada ontem, domingo, o Papa proferiu uma homilia que continha estas palavras: 

"Por isso, com o coração cheio de gratidão e esperança, digo-vos, esposos: o matrimónio não é um ideal, mas o modelo do verdadeiro amor entre o homem e a mulher: amor total, fiel e fecundo (cf. São Paulo VI, Carta Encíclica Humanae Vitae, 9). Este amor, tornando-vos 'uma só carne', permite-vos dar a vida, à imagem de Deus". 

Esta afirmação aparentemente óbvia é um torpedo na linha de água da Amoris Laetitia, que, no estilo confuso típico do pontificado anterior, indicava que a persistência no adultério era "a entrega que o próprio Deus exige no meio da complexidade concreta dos limites, mesmo que ainda não seja plenamente o ideal objetivo" e "a resposta generosa que se pode oferecer a Deus" (AL 303). O pecado grave transformou-se numa resposta generosa e o que Deus quer, sem pecar gravemente, reduz-se a um mero ideal! 

Diante desse erro de consequências catastróficas, Leão XIV usou a mesma palavra de Amoris Laetitia sobre o matrimônio indissolúvel, "ideal", mas para negá-lo em vez de afirmá-lo. O Papa reafirmou que o matrimônio não é simplesmente um ideal inatingível, meramente teórico, impossível de ser realizado pelos fiéis, mas o "modelo de amor verdadeiro" entre homem e mulher (a "medida do amor verdadeiro", diz o texto na língua materna do Papa, que provavelmente era o original). É o "amor total, fiel e fecundo" que o matrimônio exige por sua própria natureza. Portanto, o divórcio e o subsequente adultério sem arrependimento ou propósito de emenda não são amor verdadeiro, muito menos uma resposta generosa ou a entrega de si mesmo que o próprio Deus exige. Não o são, por mais que o mundo tente nos convencer do contrário. 

Poderia ser este o início da queda de Amoris Laetitia ou apenas uma frase acrescentada à homilia sem considerar as consequências? Pelo que vimos até agora, Leão XIV nunca deixa escapar, então estou inclinado a inclinar-me para a primeira opção. O tempo dirá. Enquanto isso, rezemos para que o Espírito Santo ilumine o Papa e a Igreja. (Fonte: INFOCATOLICA)