A Missa, tesouro da fé: Como usar o missal para entrar no coração da liturgia

24/11/2025

A liturgia tradicional é fruto vivo de muitos séculos de oração, transmissão e fidelidade. 

Não nasceu improvisado, mas foi lentamente moldado, como uma obra prima em que cada gesto, cada texto e cada silêncio têm um sentido profundo. Por isso, quem se aproxima pela primeira vez pode se sentir desorientado diante de tanta riqueza.

Por INFOVATICANA

A Igreja, consciente disso, colocou nas mãos dos fiéis um instrumento indispensável: o missal, uma ajuda segura para seguir a Missa, compreender suas estruturas e entrar mais conscientemente no sacrifício do altar. Há inúmeras edições antigas, como as de Don Lefèvre ou Fédère, que permanecem valiosas.

Mais recentemente, os monges da abadia beneditina de Le Barroux publicaram um missal diário completo que se destaca por sua clareza, solidez de suas explicações e beleza de suas orações, tornando-se uma ferramenta especialmente recomendada para aqueles que desejam aprofundar-se na liturgia.

Três partes principais do missal

O missal é tradicionalmente organizado em três seções principais: o Temporal' o Ordinária e o Santoral.  O Temporal reúne as celebrações do ano litúrgico e nos introduz nos diversos mistérios da vida de Cristo; O Ordinário contém as orações que sempre são rezadas, independentemente do dia; e o Santoral recolhe as festas fixas do Senhor, da Virgem e dos santos. A estas seções se acrescentam, em muitas edições, anexos altamente desenvolvidos que incluem orações por diferentes circunstâncias, catequeses, explicações doutrinárias e notas litúrgicas. Tudo isso transforma o missal num verdadeiro compêndio espiritual que acompanha os fiéis muito além do tempo da Missa.

O Ordinário da Missa: a coluna vertebral

Ordinária da Missa constitui o núcleo permanente do livro. Há o desenvolvimento completo da celebração segundo a liturgia tradicional: da Missa dos catecúmenos ao ofertório, ao cânon e à comunhão. O missal geralmente apresenta latim na página esquerda e a tradução correspondente à direita, permitindo que cada parte seja seguida claramente. Em certos momentos, aparecem —indicações, às vezes marcadas com uma caixa de destaque— que se referem à do próprio dia. Em seguida os fiéis deverão dirigir-se ao Temporário ou Santoral, conforme o caso, para encontrar o texto específico da celebração. Esse sistema de referências permite que a Missa seja vivida como uma unidade dinâmica entre o que é permanente e o que é próprio de cada festa.

O Temporal: revivendo um ano inteiro de graça

O Temporal introduz-nos a cada ano no caminho dos grandes mistérios do plano da salvação. Seu destaque é o Pascoa que celebra a redenção operada por Cristo através de sua morte e ressurreição. Trata-se de um festival móvel, cuja data varia conforme o calendário lunar. O outro grande pico do ano é o Natal, a solenidade do nascimento do Filho de Deus, que é celebrada sempre na Dezembro 25. Todo o ano litúrgico se articula em torno dessas duas celebrações. Os domingos, com poucas exceções, são marcados pelas festividades Temporárias, que nos introduzem progressivamente na vida e obra do Senhor.

Advento e Natal 

O ano litúrgico começa com o Advento, um tempo de preparação para a vinda do Senhor, caracterizado pela sobriedade e esperança. Quando o Natal, a Igreja celebra o mistério da Encarnação através de suas três Missas tradicionais —meia-noite, amanhecer e dia—, seguidas de uma oitava que se prolonga por oito dias a contemplação do Verbo feito carne.

Epifania e tempo depois da Epifania

Em 6 de janeiro a Epifania celebra a manifestação de Cristo ao mundo simbolizada nos Magos do Oriente. Então o tempo chamado "se desenvolve após Epifania", um período mais curto ou mais longo dependendo do ano, que acompanha os primeiros passos da vida pública do Senhor e nos convida a crescer espiritualmente sob sua luz.

Setenta e Quaresma

Setenta dias antes da Páscoa o Setenta, um tempo penitencial que nos prepara para viver mais intensamente a Quaresma. Este último, com seus quarenta dias de penitência, jejum, esmola e oração, começa com a Quarta-feira de cinzas, marcada pela imposição das cinzas como lembrança de nossa condição mortal. A Quaresma culmina com o Semana santa coração do ano litúrgico, onde a Igreja revive a entrada de Cristo em Jerusalém, a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, a sua Paixão, a sua morte e a sua Ressurreição.

Páscoa, Ascensão e Pentecostes

Pascoa dá lugar a um tempo de intensa alegria espiritual que dura cinquenta dias. Depois de quarenta dias o Ascensão, que marca a entrada do Cristo glorificado no céu, e dez dias depois o Pentecostes, que comemora o derramamento do Espírito Santo sobre os apóstolos e o início da missão universal da Igreja.

Tempo depois de Pentecostes

Após Pentecostes começa um longo período —mais de vinte semanas— que simbolicamente acompanha a vida da Igreja em sua peregrinação pelo mundo rumo à consumação do tempo. No último domingo após Pentecostes é proclamado o Evangelho da volta gloriosa do Senhor, antes de recomeçar com o primeiro domingo do Advento.

O Santoral: a Igreja em companhia dos santos

Santoral reúne as festas fixas do ano, dedicadas ao Senhor, à Virgem e aos santos. Cada dia do calendário está associado a uma celebração: da Transfiguração, em 6 de agosto, a São José em 19 de março ou São Miguel em 29 de setembro. Nos dias de feira, é usual seguir o Santoral, e às vezes, quando a festa é de maior patente, pode até substituir o domingo correspondente do Temporário. Assim, se a Assunção —em 15— de agosto cair em um domingo, a solenidade de Maria é celebrada e não no domingo após Pentecostes.

Como usar o missal na prática

Para manusear um missal com facilidade, basta usar bem seus marcadores. Uma é colocada no Ordinário, que é a base da celebração, e a outra na Missa do dia, quer no Temporário, quer no Sanctoral. Durante a Missa, o próprio Ordinário indica quando ir ao texto do dia e quando voltar às orações permanentes. Esse "para frente e para trás" pode parecer complicado no início, mas rapidamente se torna natural. O importante é manter a atenção e seguir em frente com calma, deixando que a liturgia imprima o ritmo.

É normal que, ao começar, se sinta perdido. A Missa tradicional requer atenção e uma certa disciplina interior, e também integra vários "coros": o sacerdote, o schola e as pessoas, cada uma com um papel diferente. Por isso convém não se preocupar, mas seguir os sinais que a liturgia oferece: as ilustrações no missal que mostram a posição do sacerdote, o Dominus Vobiscum que marcam as transições, o som dos sinos durante o cânon. Às vezes é até bom fechar o missal e limitar-se a contemplar, adorar e ouvir. O missal é um meio, não um fim: o propósito é unir-se a Cristo, que renova sacramentalmente seu sacrifício pela salvação do mundo.

A verdadeira participação: unir-se a Cristo

A participação autêntica na Missa consiste em oferecer-se com Cristo. São Pio de Pietrelcina explicou-o com palavras simples quando lhe perguntaram o que os fiéis deveriam fazer durante a Missa: "Piedade e amor". E como comparecer? "Como a Virgem e as Santas Mulheres; como São João aos pés da Cruz". Para o sacerdote, cada Missa é uma fusão sagrada na Paixão de Cristo", e os fiéis são chamados a se unir internamente a esse mesmo mistério.

O missal é uma porta aberta para o coração da liturgia. Com ela, os fiéis podem compreender melhor a Missa, vivê-la mais profundamente e unir-se mais plenamente a Cristo. Cada página, cada rubrica e cada oração é colocada para nos conduzir em direção a Deus e nos ensinar a participar com inteligência, espírito e coração. (Fonte: INFOVATICANA) Tradução Vida e Fé Católica.