A mensagem de São João Clímaco para os nossos dias

18/12/2021

"Deus em sua incompreensível bondade infinita, viu por bem honrar suas criaturas com a dignidade do livre-arbítrio. Algumas podem ser chamadas amigas Suas; outras, fiéis e legítimas servas; outras, de todo modo inúteis; outras, bárbaras e afastadas d'Ele; outras, Suas inimigas e adversárias."

Assim São João Clímaco inicia seu livro Santa Escada também conhecida como Escada do Céu. É um clássico da espiritualidade católica do santo que viveu de 581 a 606, como eremita do Sinai.

Sua obra que pretende mostrar através de vários capítulos uma escada em que a cada degrau o cristão vai subindo. Embora escrito a tanto tempo e baseado na vida dos monges, é um livro maravilhoso que toca na alma como se o santo estive dirigindo-se especialmente para quem lê.

Já em seu primeiro parágrafo, mencionado acima, o santo dá uma descrição perfeita da relação das almas com Deus. E em seguida ele continua explicando:

"Amigos de Deus são aqueles entes intelectuais e espirituais que com Ele moram. Servos fieis são aqueles que, sem preguiça e sem cansaço, obedecem à Sua santíssima vontade. Servos inúteis são aqueles que, depois de terem sido lavados com a água do santo Batismo, não guardam o que nele assentaram e capitularam. Bárbaros são aqueles que estão arredados de Sua santa fé. Adversários e inimigos que não contentes de ter sacudido de si o jugo da Lei de Deus, perseguem aos que procuram guardá-la.

Cada uma destas classes de pessoas requer especial tratado, mas o nosso propósito é tratar somente daquelas que merecem, justamente, ser chamadas fidelíssimos servos de Deus. Foram estes que, com a força potentíssima da caridade, nos impeliram a tomar essa carga; e por obediência, sem desculpa, estenderemos a nossa rude mão, tomaremos a pena, molhá-la-emos na tinta da humildade, para escrever em seus brandos e piedosos corações, como em tábuas espirituais, as palavras de Deus. Todavia, e antes de tudo, assinalemos que Deus se oferece e propõe, por verdadeira vida e saúde, a todos que tem vontade e livre-arbítrio, sejam fiéis ou infiéis, justos ou injustos, religiosos ou irreligiosos, seculares o monges, sábios ou ignorantes, sãos ou enfermos, moços ou velhos, tal como a comunicação da luz, a vista do sol e o curso do tempo, que são feitos para todos, e começaremos pela definição de alguns vocábulos que mais aproveitam ao nosso propósito.

Irreligiosa é a criatura racional e mortal, que por sua própria vontade foge à vida, tratando seu Criador como se acreditasse que Ele não existe. Iníquo é aquele que violentamente torce o entendimento da Lei de Deus, para conformá-la com seu apetite e, sendo de contrário parecer, pensa que crê na palavras de Deus. Cristão é aquele que trabalha por imitar a Jesus Cristo, tanto em Suas obras, como em Sus palavras, crendo firmemente na Santíssima Trindade. Amante de Deus é aquele que, ordenadamente e como deve, usa de todas as coisas naturais e nunca deixa de fazer o bem que pode. Continente é aquele que, no meio das tentações e laços, trabalha com todas as suas forças para alcançar paz e tranquilidade de coração e bons costumes. Monge é uma ordem e modo de viver de anjos, estando em um corpo mortal; monge é aquele que traz sempre os olhos da alma postos em Deus, e faz oração em todo o tempo, lugar e negócio: monge é uma perpétua contradição e violência da natureza, uma vigilantíssima e infatigável guarda dos sentidos; monge é um corpo casto, uma boca limpa, e um ânimo triste, o qual, trazendo sempre diante dos olhos a memória da morte, sempre se exercita na virtude.

Renúncia a desamparo do mundo são um ódio voluntário e um abandono das coisas da natureza, pelo desejo de gozar do sobrenatural. Todos os que abandonam voluntariamente as comodidades, prazeres e bens da vida presente, devem fazê-lo, ou pela esperança da glória futura, ou pela memória de seus pecados, ou pelo amor de Deus: se alguém o fizesse por outras causas, sua renúncia seria indiscreta e temerária; contudo, sejam quais forem o fim e o termo de nossa vida, tal será o prêmio que receberemos de Jesus Cristo, juiz e remunerador de nossos trabalhos. Aquele que saiu do mundo para descarregar-se do peso de seus pecados, trabalhe por imitar os que estão sobre as sepulturas chorando os mortos, e não deixe de derramar contínuas e fervorosas lágrimas e de gemer profundamente do íntimo do coração, até que Jesus Cristo levante a pedra do sepulcro (que é a dureza do coração) e ressuscite Lázaro (que é o nosso cego espírito), livrando-o dos pecados, isto é, ordenando aos ministros (que são os anjos) que o desatem das ataduras dos vícios e deixem-no ir para a bem-aventurada liberdade da alma, isto é, para a santa tranquilidade da consciência. "

O santo segue de degrau em degrau levando as almas em direção a Deus. Depois de lido as mais de trezentas páginas constatando a cada degrau a nossa fraqueza e miséria e ao mesmo tempo limpando-nos das mesmas, ao final é como se tivéssemos tomado um bando de água fria, necessária para nossa limpeza interior. Daí para frente, é nossa mudança de vida e evitar a sujeira do mundo que nos cerca.

As vezes buscamos tesouros por muitos lugares e em muitas pessoas, entretanto o verdadeiro tesouro para nossa vida pode estar onde menos esperamos; num livro que chega até nós atravessando os séculos transmitindo as palavras de um santo. Ficamos admirados em perceber que as palavras embora escritas para seus contemporâneos, foram escritas também para nós que estamos já a mil e setecentos anos distantes. (da Redação)

Oração

"Ó Deus, que destes a São João Clímaco a graça de buscar-vos acima de tudo e em primeiro lugar, dai também a nós a graça de desejar-vos e procurarmos o precioso encontro convosco, para que, a exemplo de São João Clímaco, consigamos viver o amor e a caridade para com todos os que nos rodeiam, por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo, amém. São João Clímaco, rogai por nós."