A interpretação correta da Bíblia

09/07/2025

Quem tem autoridade para interpretar a Sagrada Escritura?

Essa pergunta é fundamental para todo cristão que deseja compreender, viver e anunciar a Palavra de Deus com fidelidade. Na tradição da Igreja Católica, a resposta está firmemente enraizada na relação entre Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Magistério da Igreja.

1. A Autoridade da Igreja na Interpretação das Escrituras

Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC), a revelação divina foi confiada à Igreja de Cristo como um único "depósito da fé" (depositum fidei), presente na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura:

CIC 84: "O sagrado depósito da fé... foi confiado pelos apóstolos a toda a Igreja".

Cabe, portanto, à Igreja, unida ao seu Magistério, a interpretação autêntica da Palavra de Deus:

CIC 85: "A função de interpretar autenticamente a Palavra de Deus... foi confiada unicamente ao Magistério vivo da Igreja... aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro."

Isso não significa que o Magistério esteja acima da Palavra de Deus, mas que a serve fielmente:

CIC 86: "O Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serve, ensinando com pureza o que lhe foi transmitido..."

A Bíblia, portanto, deve ser lida à luz da Tradição viva da Igreja e com a orientação daqueles que receberam a autoridade dada por Cristo para ensinar com fidelidade.

2. A Igreja: Coluna e Sustentáculo da Verdade

Enquanto muitos afirmam que apenas a Bíblia tem autoridade e que a Igreja pode errar, a própria Escritura afirma que a Igreja é o fundamento da verdade:

"...a Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade." (1Tm 3,15)

Essa autoridade é sustentada pela promessa de Cristo, que enviaria o Espírito da Verdade:

"Quando vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à toda a verdade." (Jo 16,13)

E essa Igreja está protegida por Cristo:

"...sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mt 16,18)

Logo, rejeitar a autoridade legítima dos sucessores dos apóstolos é rejeitar o próprio Cristo:

"Quem vos ouve, a mim ouve..." (Lc 10,16)
"Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio." (Jo 20,21)

3. A Tentação da Interpretação Privada

São Pedro nos adverte:

"Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular..." (2Pd 1,20)

E reforça o perigo disso:

"...os ignorantes e inconstantes deturpam as Escrituras para sua própria perdição." (2Pd 3,15-16)

4. As Consequências da Livre Interpretação: Divisão e Confusão

A doutrina protestante da Sola Scriptura (somente a Bíblia) levou a uma explosão de divisões: mais de 28.000 denominações cristãs. Essa fragmentação contradiz o desejo de Cristo:

"...para que todos sejam um..." (Jo 17,21)

Vejamos alguns exemplos das contradições entre as denominações:

  • Sobre salvação: uns dizem que se perde, outros que não.

  • Sobre o batismo: uns batizam crianças, outros rejeitam.

  • Sobre a Eucaristia: uns creem na presença real, outros não.

  • Adventistas, mórmons e Testemunhas de Jeová ensinam doutrinas totalmente diferentes e até heréticas.

Essa desunião nega o testemunho de Cristo ao mundo:

"Para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo conheça que tu me enviaste." (Jo 17,23)

5. Tradição e Escritura: Fontes Indissociáveis

A revelação cristã é transmitida por dois canais inseparáveis:

  • A Sagrada Escritura: a palavra de Deus escrita.

  • A Sagrada Tradição: a palavra de Deus transmitida oralmente pelos apóstolos.

O Novo Testamento nasceu no seio da Igreja e foi reconhecido como Escritura muito depois de ser escrito. Os primeiros cristãos viveram da Tradição.

"Portanto, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que aprendestes, seja por palavra, seja por carta nossa." (2Ts 2,15)

6. Tradições Disciplinares vs. Tradição Apostólica

É importante distinguir entre:

  • Tradições Apostólicas: são imutáveis e fazem parte do depósito da fé.

  • Tradições e costumes locais: podem ser modificados ou abolidos conforme o discernimento da Igreja.

Conclusão: A Interpretação Correta Vem da Igreja

A Bíblia não se interpreta sozinha. Ela deve ser lida em comunhão com a Igreja, que recebeu de Cristo a missão de ensinar, guardar e transmitir a fé. Fora disso, caímos na desunião, no erro e na confusão.

A verdadeira liberdade cristã não está em interpretar a Bíblia segundo a própria vontade, mas em acolher com fé humilde o ensinamento da Igreja, sustentada pelo Espírito Santo, fundada por Cristo e conduzida ao longo dos séculos como "coluna e sustentáculo da verdade". (Redação: Vida e Fé Católica)

Durante décadas, o progressismo eclesial acusou aqueles que preferem a liturgia tradicional de agirem por ego e orgulho.