
A interpretação correta da Bíblia
Quem tem autoridade para interpretar a Sagrada Escritura?

Essa pergunta é fundamental para todo cristão que deseja compreender, viver e anunciar a Palavra de Deus com fidelidade. Na tradição da Igreja Católica, a resposta está firmemente enraizada na relação entre Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Magistério da Igreja.
1. A Autoridade da Igreja na Interpretação das Escrituras
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC), a revelação divina foi confiada à Igreja de Cristo como um único "depósito da fé" (depositum fidei), presente na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura:
CIC 84: "O sagrado depósito da fé... foi confiado pelos apóstolos a toda a Igreja".
Cabe, portanto, à Igreja, unida ao seu Magistério, a interpretação autêntica da Palavra de Deus:
CIC 85: "A função de interpretar autenticamente a Palavra de Deus... foi confiada unicamente ao Magistério vivo da Igreja... aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro."
Isso não significa que o Magistério esteja acima da Palavra de Deus, mas que a serve fielmente:
CIC 86: "O Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serve, ensinando com pureza o que lhe foi transmitido..."
A Bíblia, portanto, deve ser lida à luz da Tradição viva da Igreja e com a orientação daqueles que receberam a autoridade dada por Cristo para ensinar com fidelidade.
2. A Igreja: Coluna e Sustentáculo da Verdade
Enquanto muitos afirmam que apenas a Bíblia tem autoridade e que a Igreja pode errar, a própria Escritura afirma que a Igreja é o fundamento da verdade:
"...a Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade." (1Tm 3,15)
Essa autoridade é sustentada pela promessa de Cristo, que enviaria o Espírito da Verdade:
"Quando vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à toda a verdade." (Jo 16,13)
E essa Igreja está protegida por Cristo:
"...sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mt 16,18)
Logo, rejeitar a autoridade legítima dos sucessores dos apóstolos é rejeitar o próprio Cristo:
"Quem vos ouve, a mim ouve..." (Lc 10,16)
"Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio." (Jo 20,21)
3. A Tentação da Interpretação Privada
São Pedro nos adverte:
"Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular..." (2Pd 1,20)
E reforça o perigo disso:
"...os ignorantes e inconstantes deturpam as Escrituras para sua própria perdição." (2Pd 3,15-16)
4. As Consequências da Livre Interpretação: Divisão e Confusão
A doutrina protestante da Sola Scriptura (somente a Bíblia) levou a uma explosão de divisões: mais de 28.000 denominações cristãs. Essa fragmentação contradiz o desejo de Cristo:
"...para que todos sejam um..." (Jo 17,21)
Vejamos alguns exemplos das contradições entre as denominações:
-
Sobre salvação: uns dizem que se perde, outros que não.
-
Sobre o batismo: uns batizam crianças, outros rejeitam.
-
Sobre a Eucaristia: uns creem na presença real, outros não.
-
Adventistas, mórmons e Testemunhas de Jeová ensinam doutrinas totalmente diferentes e até heréticas.
Essa desunião nega o testemunho de Cristo ao mundo:
"Para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo conheça que tu me enviaste." (Jo 17,23)
5. Tradição e Escritura: Fontes Indissociáveis
A revelação cristã é transmitida por dois canais inseparáveis:
-
A Sagrada Escritura: a palavra de Deus escrita.
-
A Sagrada Tradição: a palavra de Deus transmitida oralmente pelos apóstolos.
O Novo Testamento nasceu no seio da Igreja e foi reconhecido como Escritura muito depois de ser escrito. Os primeiros cristãos viveram da Tradição.
"Portanto, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que aprendestes, seja por palavra, seja por carta nossa." (2Ts 2,15)
6. Tradições Disciplinares vs. Tradição Apostólica
É importante distinguir entre:
-
Tradições Apostólicas: são imutáveis e fazem parte do depósito da fé.
-
Tradições e costumes locais: podem ser modificados ou abolidos conforme o discernimento da Igreja.
Conclusão: A Interpretação Correta Vem da Igreja
A Bíblia não se interpreta sozinha. Ela deve ser lida em comunhão com a Igreja, que recebeu de Cristo a missão de ensinar, guardar e transmitir a fé. Fora disso, caímos na desunião, no erro e na confusão.
A verdadeira liberdade cristã não está em interpretar a Bíblia segundo a própria vontade, mas em acolher com fé humilde o ensinamento da Igreja, sustentada pelo Espírito Santo, fundada por Cristo e conduzida ao longo dos séculos como "coluna e sustentáculo da verdade". (Redação: Vida e Fé Católica)