A força da repetição na oração: Por que o Terço é uma escola de perseverança na fé

06/10/2025

Entre as críticas mais comuns feitas pelos protestantes aos católicos está a de que "não falamos diretamente com Deus", mas apenas "repetimos fórmulas".  

Essa objeção costuma se voltar especialmente contra o Santo Terço, com suas cinquenta Ave-Marias e orações que se repetem.
No entanto, essa crítica revela um equívoco sobre a natureza da oração, da alma humana e da própria pedagogia divina.

1. A Repetição é a Mãe da Perseverança

Deus nos criou com corpo e alma, e sabe que a alma humana aprende pela constância e pela repetição.
Nada que é grande e duradouro nasce de um único gesto, mas de muitos atos perseverantes.

Na natureza e no progresso humano, tudo o que dá fruto requer repetição e constância:

  • Para cortar uma madeira, é preciso mover o serrote inúmeras vezes — não basta um único golpe.

  • Para desenvolver músculos, é preciso levantar o mesmo peso repetidas vezes, com disciplina.

  • Para aprender uma língua, o aluno precisa repetir as mesmas palavras até que o som se torne natural.

Por que, então, no relacionamento com Deus — que é o mais alto exercício do espírito — deveríamos imaginar que um único gesto improvisado bastaria?
A alma que ama repete, não por falta de conteúdo, mas por abundância de amor.

2. O Terço: uma Oração de Amor e Meditação

O Santo Terço, longe de ser uma oração mecânica, é uma meditação contínua sobre os mistérios da vida de Cristo e de Nossa Senhora.
Cada Ave-Maria é como o bater de um martelo que molda o coração.
Cada repetição é uma gota que escava a rocha da alma, tornando-a dócil à vontade de Deus.

Quando o católico reza o terço, ele fala com Deus, louva Maria, e medita os mistérios da salvação.
O objetivo não é multiplicar palavras vazias, mas criar um ritmo de recolhimento, humildade e amor.
É a escola da paciência e da presença de Deus.

3. A Bíblia e a Oração Perseverante

Longe de condenar a repetição, a Sagrada Escritura a exalta como expressão de fé e perseverança.

  • Jesus mesmo orou repetindo as mesmas palavras:

    "E, afastando-se novamente, orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras."
    (Mateus 26,44)

    Nosso Senhor, no Horto das Oliveiras, repetiu a mesma súplica ao Pai — e quem ousaria acusá-Lo de "reza mecânica"?

  • A viúva insistente é elogiada por Jesus:

    "E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele dia e noite?"
    (Lucas 18,7)

    Aqui, a perseverança na oração é apresentada como sinal de fé viva.

  • Os anjos no Céu repetem eternamente o mesmo louvor:

    "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus Todo-Poderoso"
    (Apocalipse 4,8)

    Se até os anjos repetem incessantemente o mesmo cântico diante do trono de Deus, como poderíamos nós, pobres mortais, considerar indigna a repetição?

4. "Não Multipliqueis Palavras" — O Verdadeiro Sentido

Os protestantes costumam citar Mateus 6,7:

"E orando, não useis de vãs repetições, como os gentios..."

Mas o próprio texto condena as repetições vãs, não as repetições santas.
Os gentios pensavam que seriam ouvidos por falarem muito, mas o cristão reza com o coração, mesmo que as palavras se repitam.
A diferença está na intenção, não na quantidade de palavras.

5. Rezar é Trabalhar a Alma

Assim como o corpo precisa de exercícios para manter-se forte, a alma precisa de oração constante.
A repetição no terço é o "levantamento de pesos" espiritual — fortalece a fé, a paciência, a humildade e a entrega.
Com o tempo, a oração vai se tornando mais interior, mais silenciosa, mais unida a Deus.

E, depois da oração vocal, vem a oração pessoal: o diálogo íntimo com o Criador, os pedidos particulares, os agradecimentos e os propósitos.
Mas essa conversa nasce da disciplina da oração repetida, que prepara o coração para ouvir e ser ouvido.

Conclusão

A oração católica — e em especial o Santo Terço — não é um amontoado de palavras, mas um exercício de amor perseverante.
Repetimos porque amamos, e quem ama nunca se cansa de repetir.
Assim como um filho diz "eu te amo" ao pai inúmeras vezes sem que isso perca o valor, também nós dizemos "Ave Maria" com o mesmo carinho, sabendo que cada palavra sobe ao Céu.

O progresso humano e a santidade seguem o mesmo princípio: a fidelidade nas pequenas repetições.
E aquele que perseverar, mesmo repetindo, será ouvido e transformado pela graça. (Redação:
Vida e Fé Católica)

Desde seu início até a morte', a vida humana é cercada de sua guarda e intercessão

Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e na mesma relação. Em outras palavras: se uma proposição é verdadeira, a proposição oposta é necessariamente falsa, e vice-versa.