A força da repetição na oração: Por que o Terço é uma escola de perseverança na fé
Entre as críticas mais comuns feitas pelos protestantes aos católicos está a de que "não falamos diretamente com Deus", mas apenas "repetimos fórmulas".

Essa objeção costuma se voltar especialmente contra o Santo Terço, com suas cinquenta Ave-Marias e orações que se repetem.
No entanto, essa crítica revela um equívoco sobre a natureza da oração, da alma humana e da própria pedagogia divina.
1. A Repetição é a Mãe da Perseverança
Deus nos criou com corpo e alma, e sabe que a alma humana aprende pela constância e pela repetição.
Nada que é grande e duradouro nasce de um único gesto, mas de muitos atos perseverantes.
Na natureza e no progresso humano, tudo o que dá fruto requer repetição e constância:
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Para cortar uma madeira, é preciso mover o serrote inúmeras vezes — não basta um único golpe.
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Para desenvolver músculos, é preciso levantar o mesmo peso repetidas vezes, com disciplina.
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Para aprender uma língua, o aluno precisa repetir as mesmas palavras até que o som se torne natural.
Por que, então, no relacionamento com Deus — que é o mais alto exercício do espírito — deveríamos imaginar que um único gesto improvisado bastaria?
A alma que ama repete, não por falta de conteúdo, mas por abundância de amor.
2. O Terço: uma Oração de Amor e Meditação
O Santo Terço, longe de ser uma oração mecânica, é uma meditação contínua sobre os mistérios da vida de Cristo e de Nossa Senhora.
Cada Ave-Maria é como o bater de um martelo que molda o coração.
Cada repetição é uma gota que escava a rocha da alma, tornando-a dócil à vontade de Deus.
Quando o católico reza o terço, ele fala com Deus, louva Maria, e medita os mistérios da salvação.
O objetivo não é multiplicar palavras vazias, mas criar um ritmo de recolhimento, humildade e amor.
É a escola da paciência e da presença de Deus.
3. A Bíblia e a Oração Perseverante
Longe de condenar a repetição, a Sagrada Escritura a exalta como expressão de fé e perseverança.
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Jesus mesmo orou repetindo as mesmas palavras:
"E, afastando-se novamente, orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras."
(Mateus 26,44)Nosso Senhor, no Horto das Oliveiras, repetiu a mesma súplica ao Pai — e quem ousaria acusá-Lo de "reza mecânica"?
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A viúva insistente é elogiada por Jesus:
"E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele dia e noite?"
(Lucas 18,7)Aqui, a perseverança na oração é apresentada como sinal de fé viva.
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Os anjos no Céu repetem eternamente o mesmo louvor:
"Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus Todo-Poderoso"
(Apocalipse 4,8)Se até os anjos repetem incessantemente o mesmo cântico diante do trono de Deus, como poderíamos nós, pobres mortais, considerar indigna a repetição?
4. "Não Multipliqueis Palavras" — O Verdadeiro Sentido
Os protestantes costumam citar Mateus 6,7:
"E orando, não useis de vãs repetições, como os gentios..."
Mas o próprio texto condena as repetições vãs, não as repetições santas.
Os gentios pensavam que seriam ouvidos por falarem muito, mas o cristão reza com o coração, mesmo que as palavras se repitam.
A diferença está na intenção, não na quantidade de palavras.
5. Rezar é Trabalhar a Alma
Assim como o corpo precisa de exercícios para manter-se forte, a alma precisa de oração constante.
A repetição no terço é o "levantamento de pesos" espiritual — fortalece a fé, a paciência, a humildade e a entrega.
Com o tempo, a oração vai se tornando mais interior, mais silenciosa, mais unida a Deus.
E, depois da oração vocal, vem a oração pessoal: o diálogo íntimo com o Criador, os pedidos particulares, os agradecimentos e os propósitos.
Mas essa conversa nasce da disciplina da oração repetida, que prepara o coração para ouvir e ser ouvido.
Conclusão
A oração católica — e em especial o Santo Terço — não é um amontoado de palavras, mas um exercício de amor perseverante.
Repetimos porque amamos, e quem ama nunca se cansa de repetir.
Assim como um filho diz "eu te amo" ao pai inúmeras vezes sem que isso perca o valor, também nós dizemos "Ave Maria" com o mesmo carinho, sabendo que cada palavra sobe ao Céu.
O progresso humano e a santidade seguem o mesmo princípio: a fidelidade nas pequenas repetições.
E aquele que perseverar, mesmo repetindo, será ouvido e transformado pela graça. (Redação: Vida e Fé Católica)